Prof. Johan Malan, Middelburg, South Africa
A história dos Waldenses da Itália e do Sul da França, representa uma parte importante da narrativa sôbre os primeiros cristãos de entre o tempo dos apóstolos e a Reforma. Estes crentes evangélicos rejeitavam a Igreja Católica Romana e eram fugitivos frequentemente atacados pelos “exércitos santos” do Vaticano. A história dos Malans é mais antiga que a dos Waldenses, pois êstes apenas mais tarde participaram nêste movimento. No seu livro Os Malans da África do Sul, Hercules Malan entre outros diz o seguinte sôbre os antepassados desta família Waldense:
“A antiga história dos Malans é uma história de severa perseguição e sofrimento, devido à sua fé. Os Malans tiveram origem nos vales do Piemonte, na região noroeste da actual Itália. De acôrdo com uma velha tradição, o Evangelho foi levado aos habitantes do Piemonte por São Paulo, quando êste visitou a área a caminho de Espanha. Isso teria sido durante a sua quarta viagem missionária, que às vezes é mencionada na história da igreja (torna-se difícil verificar històricamente os acontecimentos da parte inicial da sua história – ed.). Os Malans descreviam-se como Cristãos Originais. Nunca aceitaram a autoridade do Papa, e foram mais tarde conhecidos juntamente com outros crentes por Vaudois ou Waldenses. O nome Malan era um epiteto abusivo dado a estes “heréticos” pelos adeptos de Roma. No decorrer dos tempos, êste nome abusivo foi aceite pelos Malans como título honorário.
“Aparentemente, ‘Os Malans de Merindol’, o ramo da família que deu origem aos Malans Sul fricanos e Ingleses, fugiu para Merindol, em Durance, na Provença (Sul da França), durante a grande perseguição de 1112. Os Malans enriqueceram e eram bem conhecidos em Merindol. A parte da cidade habitada por êles, era conhecida por “Bairro dos Malans”. “A partir de 1177 os Malans e outros crentes evangélicos passaram a ser conhecidos por Waldenses, do nome de Peter Waldo, (Valdes ou Vaudes), um mercador de Lyon que iniciou um movimento de prègadores leigos para propagação do verdadeiro evangelho. Os Waldenses foram banidos em 1184 pelo Papa Lucius, mas continuaram com a sua prègação. Em 1215 foi publicado um édito contra êles ao abrigo do qual tinham de ser presos e ter os seus bens confiscados…
“Em 1309, o Papa Clemente ordenou ataques contra os Waldenses, durante os quais muitas das suas aldeias e casas foram incendiadas. Os que sobreviveram fugiram para as montanhas. Laurent Malan, a esposa e filho abrigaram-se entre os altos montes da área de Taillant, onde foram descobertos por soldados. Ao recusarem-se a abandonar a sua fé, foram lançados num precipício e assim morreram… Entre 1380 e 1392 o papa condenou 230 Waldenses a serem queimados vivos, acusados de heresia. Em 1440 Cesar Segismundo chefiou uma campanha contra os Waldenses. Barthelemeni Malan foi apunhalado e morreu, por ter sido apanhado a orar depois de ter sido capturado. Nos seus últimos momentos confessou o nome do Senhor Jesus…
“Depois da Reforma, prègadores protestantes como por exemplo Guillaume Farrell, convenceram os Waldenses de que havia muitas semelhanças entre os seus ensinamentos e os de Lutero e Calvino. Consequentemente, em 1532 os Waldenses da França decidiram juntar-se à Igreja Reformada. A impressão da primeira Bíblia Protestante, em francês, foi financiada pelos Waldenses da Provença.
“Os Waldenses não viveram muito tempo em paz. Em 1534 o parlamento da Provença ordenou-lhes que abandonassem a sua fé ou saíssem do país. E desastres naturais, como as inundações em Durance, o graniso e falhas na produção agrícola, foram atribuídos às suas crenças. Depois de não se ter registado qualquer reacção àquela ordem, em 1540 foi publicado o Decreto de Merindol, que mandou queimar vivos 19 habitantes de Merindol e incendiar e arrazar por completo a cidade. Êste decreto foi aplicado em 1545, do que resultou a destruição de 22 vilas por 4000 soldados. A maior parte dos Waldenses fugiu então para junto dos companheiros crentes do Piemonte, voltando no entanto mais tarde para a Provença. Por volta de 1560 Merindol tornou-se de novo um forte centro protestante.
“Em França a perseguição contra os Waldenses tornou-se mais vigorosa, e mais tarde extendeu-se a todos os protestantes franceses, que passaram a ser conhecidos por Huguenots. Os Malans formavam parte dos Huguenots, que sofreram sangrenta perseguição sob a égide da Igreja Católica Romana, especialmente depois de Luis XIV ter subido ao trono da França em 1661. Entre 1681e 1720 fugiram da França cêrca de 200 000 Huguenots – muitos dos quais para a Holanda. Entre êstes contava-se também Jacques Malan, o progenitor dos Malans Sul Africanos.”
Jacques fazia parte de um grupo escolhido de Huguenots franceses que foi enviado para a colónia holandesa do Cabo em 1688 – muitos como fazendeiros que fornecian productos frescos aos navios que seguiam para o Oriente.
No seu livro A Igreja Peregrina -Traçando o caminho dos santos esquecidos desde o Pentecostes ao século 20 (1999), Edmund Broadbent faz o seguinte comentário à fé dos Waldenses:
“As doutrinas e práticas dêstes irmãos, conhecidos por Waldenses e por outros nomes eram de tal caracter, que é evidente que não eram o fruto de um esfôrço para reformar as igrejas Romana e Grega e trazê-las a caminhos mais de acôrco com as Escrituras. Não mostrando quaisquer traços da influência daquelas igrejas, elas mostram pelo contrário a continuação de uma velha tradição, oriunda de uma fonte muito diferente – o ensino das Escrituras e a prática da Igreja primitiva. A sua existência prova que tinha havido sempre homens de fé, homens de fôrça espiritual e compreensão, que tinham mantido nas igrejas uma tradição semelhante à dos dias apostólicos e muito afastada daquilo que as Igrejas dominantes tinham feito crescer.
“Além das Sagradas Escrituras, êles não possuiam qualquer confissão de fé especial ou religião, nem quaisquer regras; e nenhuma autoridade de qualquer homem mesmo eminente era autorizada a suplantar a autoridade das Escrituras. No entanto, através dos séculos, êles confessaram as mesmas verdades e seguiram as mesmas práticas em todos os países. Êles consideravam as próprias palavras de Cristo nos evangelhos como a mais elevada revelação, e se alguma vez não podiam reconciliar quaisquer das Suas palavras com outras partes das Escrituras, embora aceitassem estas no conjunto, agiam na base do que consideravam ser o significado simples dos Evangelhos. Seguir Cristo, guardar as Suas palavras e imitar o Seu exemplo, eram o seu principal tema e finalidade. Diziam êles, que o Espírio de Cristo é eficiente em todo o homem, na medida em que o homem obedece às palavras de Cristo e é Seu verdadeiro seguidor. É apenas Cristo que pode conferir a habilidade de compreeender as Suas palavras. Se alguma pessoa O amar, ela guardará as Suas palavras. Havia entre êles várias verdades que consideravam essenciais ao convívio, mas em assuntos abertos à dúvida ou diferença de pontos de vista, permitiam grande liberdade. Êles mantinham que o testemunho íntimo do residente Espírito de Cristo é de grande importância, visto que as mais elevadas verdades provêem do coração da mente; não que resulte disso nova revelação, mas sim uma mais clara compreensão da Palavra…
“Em assuntos de ordem na igreja praticavam a simplicidade, e não havia entre êles algo que correspondesse àquilo que se notava na Igreja de Roma. No entanto, as igrejas e os anciãos aceitavam as suas responsabilidades com a máxima seriedade. Em questões de disciplina, nomeação de anciãos e outros actos, toda a igreja tomava parte juntamente com os anciãos. A Ceia do Senhor era para todos os crentes, e era tida como lembrança da oferta do corpo do Senhor por êles e como poderosa exhortação a que se deixassem quebrar e sofrer pelo Seu Nome. Quanto ao batismo…(diziam êles) que as criancinhas não são salvas por tal acto, pois o Senhor diz que ‘aquele que acredita e é batisado será salvo’ e uma criancinha aínda não acredita…Êles não aceitavam a reinvindicação da grande Igreja professante, de se poder abrir ou fechar o caminho da salvação, nem acreditavam que a salvação se obtenha por meio de quaisquer sacramentos ou de qualquer outra coisa além da fé em Cristo”. (Broadbent, ibid., p. 119-120).
A história dos Waldenses torna evidente que o direito à liberdade religiosa se obtinha por preço muito elevado. Mas a maioria dos Cristãos modernos procura abandonar tal direito, a favor de uma maior aceitação ecuménica e política na emergente comunidade multi-religiosa internacional. Em tal processo negam-se várias doutrinas do Cristianismo evangélico, incluindo que Jesus Cristo é o único Salvador de um mundo perdido prestes a morrer.
Uma outra observação que podemos fazer sôbre a grande apostasia espiritual dos nossos dias, é que o Cristianismo não se pode herdar. Cada nova geração de pessoas deve ser evangelizada de novo e confrontada com a decisão de obedecer aos mandamentos de Cristo relativamente ao arrependimento, à santificação e ao discipulado. No entanto, podemos obter inspiração nos testemunhos e exemplos de santos antepassados. Referindo-se a vários famosos heróis da fé, Paulo diz o seguinte sôbre as suas experiências e legado religioso que nos deixaram, no capítulo 11 de Hebreus:
“Portanto, uma vez que também estamos rodeados por tamanho número de testemunhas, punhamos de lado toda a carga, e o pecado que tão fàcilmente nos enreda, e corramos com fortaleza a corrida que está à nossa frente, olhando para Jesus, o autor e consumador da nossa fé…Seguí a paz com todos os homens e a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor: Olhando com diligência, para que nenhum se prive da graça de Deus” (Hebreus 12:1-2, 14-15).
Definitivamente nós devemos aprender com os êrros dos nossos antepassados. Lastimo o facto de os Waldenses da França terem aderido à Igreja Reformada tornando se calvinistas. Ao fazê-lo, comprometeram gravemente a pureza da doutrina que tinham confessado e praticado até essa altura, substituindo-a por uma doutrina que continha graves êrros e inconsistências. No livro de Broadbent acima citado bem como no livro de Dave Hunt (Que Amor é êste? A falsa representação calvinista de Deus), torna-se óbvio que o Calvinismo tomou as rédeas e perpetuou várias das falsas teorias e práticas não-bíblicas da Igreja Católica Romana.
Entre estas conta-se a teologia do contrato, nos têrmos da qual os infantes são borrifados com água e declarados salvos (regeneração batismal); a predestinação, que diz que apenas Deus decide quem vai para o céu e quem vai para o inferno, visto que o homem, alegadamente, não possui vontade própria; a segurança eterna – um Cristão pode viver a seu bel prazer, porque nunca pode retroceder a ponto de perder a sua fé – e o dominionismo (teologia do reino agora), que rejeita o futuro reino milenário de Cristo ao afirmar que o reino de Deus deve ser revelado pela igreja durante a presente dispensação. Êles acreditam que têm a autoridde dada por Deus para governar o mundo e sujeitar os povos à sua autoridade. Muitas destas doutrinas tiveram origem com Santo Agostinho, que é olhado por tanto católicos como protestantes como o mais importante pai da igreja.
Lastimo também o facto de alguns dos Malans da França se terem envolvido na indústria dos vinhos. Dessa maneira prestaram honras ao deus do vinho, Baco. Esta tradição continuou em Franschhoek, no Cabo. Um Cristão de maneira alguma se devia associar com a produção, distribuição e uso de bebidas alcoólicas (Prov.20:1; 23:31-32; Hab. 2:15; Ef. 5:18).
Partindo da antiga história dos Malans na Europa, faço agora um curto relato das suas experiências na África do Sul, bem assim como dos acontecimentos na minha própria vida como descendente Waldensiano. A finalidade única de tal relato é a glorificação de Deus pelo que Êle pode fazer nas vidas que Lhe são totalmente dedicadas, e ao mesmo tempo dar um aviso sério a todos quantos resistem ao Senhor e caminham nos seus próprios caminhos.
A característica dos Malans é um forte espírito pioneiro. Durante muitos séculos, movidos pela sua fé, habituaram-se a fugir à perseguição do lugar onde se encontravam e a procurar refúgio noutros lugares. Tornou-se uma tradição de família não se manterem no mesmo local por muito tempo. Jacques Malan e os seus descendentes do Cabo, seguiram a mesma tradição. Muitos deles foram para o Cabo Oriental para se dedicarem à agricultura, entre outros no distrito de Cradock.
Uma existência pioneira árdua também seguiu muitos outros Malans, que foram para o Transval como fazendeiros. Alguns deles, como meu avô Anthonie Christoffel, que era um cristão devoto, partiram para a Swazilândia também para a agricultura. O meu pai (Johannes Stefanus, nascido em 1914) e os seus irmãos e irmãs, aprenderam a falar Swazi fluentemente desde muito jóvens. Esta família tinha fundações cristãs profundas, e meu pai decidiu tornar-se missionário quando ainda andava na escola. O seu chamamento levou-o eventualmente para Wellington, no Cabo, onde então recebeu treino no Instituto Missionário Reformado Holandês. A família da minha mãe (Grobler), também se dedicava à agricultura na Swazilândia.
A primeira congregação missionária de meu pai foi em Carolina, no Transval Oriental, onde eu nasci em 1941. O meu pai tinha passado muito tempo a ler os livros de revivalistas dos séulos 18 e 19, principalmente Moody e Torrey, lendo também obras sôbre a teologia dispencionalista da autoria de Scofield e Clarence Larkin, e, com o passar do tempo, rejeitou várias doutrinas calvinistas. Êle passou os últimos sete anos do seu ministério na Swazilândia, onde prègou muitas vezes na língua Swazi pela rádio.
Depois de acabar a “Matric” em 1958 em Middelburg, começou para mim uma vida de quase contínuas deslocações. Havia no meu coração um forte espírito de irrequietude. Apesar de uma bôa educação cristã, eu não seguia os caminhos do Senhor, e era atraído pelo desconhecido.
Conduzi as minhas investigações doutorais entre os Himba, um povo de língua Herero estabalecido na Kaokolandia e adjacente a partes do Sudoeste de Angola. Depois de um ano tivemos de procurar um local mais apropriado para o meu trabalho, e movemo-nos mais para o Norte para uma área rural da floresta a cêrca de 40 kilómetros do rio Kunene. O Departamento construiu uma pequena casa e escritório para nós nesta área remota, e forneceu-nos um Ford F250 4x4, bem como um intérprete e um ajudante de campo para mim. Entre outras coisas esperava-se de mim levar a cabo investigação etnográfica sôbre o sistema político tradicional e leis hereditárias dos Himba, pois o Departamento precisva dessa informação para a administração da justiça e definição dos direitos dos chefes locais.
Uma vida cheia de aventuras esperava a Wilma, a mim próprio e a Johan (3). Cães bravos e hienas vinham até nossa casa depois de apanharmos caça ou matarmos algo pequeno. Nos acampamentos da floresta estivemos muitas vezes muito perto de leões, elefantes e rinocerontes nêgros. Em certas ocasiões Wilma ficava em casa só, e tinha de se defender com uma pistola de calibre 9 mm contra a altmente venenosa cobra-zebra, (membro da família da víbora comum). Durante êsse tempo também explorámos o desolado deserto da Namíbia muito ao Norte até à bôca do Kunene e pescámos no mar. Na Ponta Rochosa, na Costa dos Esqueletos, havia uma casa construída com a madeira de navios afundados, que tinha ido parar à praia. Esta casa era um abrigo bemvindo para os pescadores, contra os incessantes ventos do deserto.
Para comprar alimentos e outras necessidades, só podiamos utilisar o carro do govêrno uma vez cada dois meses, para visitar Outjo ou Otjivarongo (300 kilómetros em estradas más). Numa dessas viagens tivemos 11 pneus furados, e eu tive de cortar as solas de ambos os meus sapatos para os remendar. Uma secção desta estrada passava pela parte mais ocidental da Reserva de Caça Etosha, e na estação das chuvas era virtualmente impassável. Numa outra viagem passámos a noite inteira entre elefantes, depois do Ford se ter enterrado na lama. Na parte montanhosa Norte da Kaokolandia, as estradas (na maioria apenas dois carreiros que mal se distinguiam) eram tão más, que muitas vezes levavam-nos um dia inteiro para percorrer 100 kilómetros. Quando os rios trasbordavam depois de fortes tempestades, e a água era demasiado profunda para passarmos a váu, tinhamos de acampar na margem até a inundação baixar.
Do outro lado do rio Kunene, em Angola, havia meia dúzia de lojas portuguesas que visitávamos de vez em quando. Tinhamos de atravessar o rio em canoas primitivas com gente local, correndo sempre o risco de cair entre os crocodilos, se as canoas de troncos de árvore se virassem. Numa viagem tive de deixar a Wilma sòzinha debaixo de palmeiras makalani no acampamento das Quedas de Água Etupa, quando tive de atravessar o rio para fazer certas compras. Uma súbita rabanada de vento forte fez cair uma cobra de árvore (boomslang), de uma fôlha escorregadia de palmeira sôbre a nossa mala de compras A Wilma fechou imediatamente a tampa da mala ao ver o que estava dentro. E quando chamou o meu ajudante de campo para a ajudar, êste fugiu cheio de medo. Então a Wilma levantou a tampa com a ponta duma cana de pesca e a cobra escapou.
Depois de ter completado as minhas investigações, desejava ardentemente continuar na Namíbia, mas o Departamento transferiu-me inesperadamente do meu esconderijo na escura floresta africana para Pietermaritzburg, onde fui nomeado etnologista oficial para Kuazulu e Natal. A adaptação para circunstâncias radicalmente diferentes foi difícil. Um ano mais tarde fui de novo transferido, desta vez como etnologista para o antigo Ciskey e Transkei. Aí, por ter de trabalhar numa vasta área, pude escolher onde residir, e eventualmente decidimo-nos por uma pequena cidade chamada Cathcart. Ali completei a minha tese doutoral e submeti-a à RAU, recebendo o meu doutorado em 1972.
Na quietude desta pequena cidade, o Senhor tinha um encontro marcado com a Wilma e comigo. Eu tentei em vão melhorar a minha vida, incluindo no campo académico, mas espiritual e moralmente continuava aínda no deserto, longe do Senhor e da Sua rectidão. Compreendi a gravidade do meu problema, admiti ao Senhor ter feito da minha vida um grande fracasso, e então confessei-Lhe os meus pecados e a minha condição de perdido. Êle perdoou-me por completo e renovou a minha vida. A Wilma também resolveu a sua situação com o Senhor, e juntos começámos uma vida nova.
Mas ambos tinhamos grandes saudades da Namíbia e um ano apenas depois de chegar ao Ciskei, fui nomedo etnólogo para o Museu Estadual de Windhoek. O meu escritório estava situado num velho forte alemão, o Alte Feste, mesmo em frente de Windhoek. Que alegria ter voltado àquele vasto território, onde se experimenta uma grande sensação de liberdade! No entanto, a readaptação a condições embora familiares não ia ser assim tão fácil, pois tinha de dar o testemunho da minha fé a antigos amigos com quem dantes tinha bebido e passado tempo em vãs conversas. Mas em breve formámos novas e duradouras amizades no Senhor, continuando aínda hoje a gozar a companhia de muitos deles.
Compreendi também, que aínda faltava algo na minha vida espiritual, a submissão total ao Senhor, para ser cheio com o Espírito Santo e poder então viver uma vida santa e produtiva – (2 Cor. 7:1 e 1 Tess. 4:7-8). Li o livro de R:A. Torrey O Espírito Santo, Quem é e O que Faz, e entreguei a minha vida por completo ao Senhor, quando um dia me encontrava a sós numa caravana na costa ocidental.
Seguiu-se para mim uma época de rápido crescimento espiritual, embora não ausente de conflitos e ataques do diabo e seus agentes. Juntámo-nos aos Gideons e começámos a distribuir Novos Testamentos em escolas. Em colaboração com o Escritório do Grupo Missionário Reformado Holandês de Windhoek, iniciámos então um projecto para a distribuição subsidiada de Bíblias e folhetos (O Coração do Homem) nas línguas locais. Ajudaram-nos neste trabalho estudantes cristãos da Universidade de Stellembosch.
Durante êste tempo continuei a viajar extensamente no Norte da Namíbia, tendo também ficado por seis meses em Swakopmund. Os meus pais e sogros visitaram-nos ali, e tivemos bons tempos juntos, acompanhando-nos em saídas à pesca para Henties Bay e mais longe. Prossegui ao mesmo tempo com o meu programa de investigação sôbre as culturas dos povos indígenas e publiquei num jornal científico, artigos sôbre os Hereros e Ovambos.
Em 1978 fui nomedo Chefe do Departamento de Antropologia da Universidade do Norte, (presentemente Universidade do Limpopo), perto de Pietersburg, no Transvaal do Norte. Fiquei ali até à minha aposentação em Janeiro de 2006. Ao nível acadámico, rejeitei a teoria da evolução biológica e excluí-a das minhas lições,visto que não passa de uma forma clara de negação de Deus como Criador. Ela faz dos seres humanos criaturas semelhantes a animais, com macacos como antepassados. De acôrdo com esta teoria, um ser humano não possui espírito (apenas uma alma e um corpo), pois, de harmonia com os cientistas agnósticos, não foi criado à imagem de Deus e portanto não tem de dar contas a Deus pela maneira como vive. De facto eu estudei o desenvolvimento histórico dos povos, desde a primitiva Idade da Pedra através das Idades do Bronze e do Ferro até ao nível da sociedade moderna, e sempre no contexto da tecnologia e cultura da raça humana (Homo Sapiens). Os nossos antepassados nunca foram meio-macacos! Em certa ocasião recusei-me a receber um evolucionista na Universidade, que desejava fazer uma série de preleções para promover a sua teoria. O Reitor ficou numa situação difícil, quando lhe expliquei num memorando que não existe qualquer evidência científica de espécies transicionais, que macacos continuam a ser macacos, e que eu tinha um problema moral dizendo aos estudantes que são descendentes de símios e macacos. No entanto, sob a pressão de outros colegas êle apoiou teimosamente aquela teoria, aceitando ao mesmo tempo a minha recusa e respondendo: “Respeito o seu ponto de vista, mas discordo dele”.
Em Pietersburg comecei um ministério cristão inter-denominacional, que compreende escrever livros, a publicação de uma revista bimensal, a prègação em igrejas e conferências, palestras na rádio e um enderêço cristão na Internet. O Senhor abençoou-me dando-me a conhecer maravilhosos irmãos em Cristo, que me ajudaram na tradução de alguns dos meus livros ingleses e artigos em russo, estoniano, swahili e português. O irmão Julio de Andrade de Silverton, em Pretória, escreveu-me depois de ter lido o livrinho de John Rice Inferno - O que a Bíblia diz a seu respeito, que eu re-editei na África do Sul. Êle ofereceu-se para o traduzir e êsse facto constituiu o início de um prolongado e abençoado relacionamento entre nós dois.
Durante a nossa estadia em Pietersburg, as minhas andanças tipicamente waldencianas evidentemente que terminaram. No entanto, a minha especialidade ofereceu-me a oportunidade de efectuar pesquizas em várias partes do mundo, tendo em vista o alargamento da nossa perspectiva por meio de estudos comparativos e a produção de artigos científicos. Essas viagens levaram-me à Namíbia, Swazilândia, Zimbabwe, Zâmbia, Malawi, Estónia e Israel. Escrevi um livro Povos da Namíbia que foi aprovado para estudantes. Na Estónia efectuei estudos sôbre etnicidade e em Israel investiguei a actividade agrícola comunitária dos “kibbutzes”. A Wilma e eu visitámos vários deles, onde efectuámos entrevistas. Durante uma das nossas viagens ao Léste Europeu, visitámos também belos locais na Finlândia, Suécia e Suiça, apenas para explorar partes da Europa.
Depois da minha aposentação, fixámo-nos em Middelburg, na área Léste do Transvaal. À medida que nos aproximamos do final da nossa jornada terrestre, muitas vezes uma pessoa olha para onde tudo começou, e mesmo mais para tràs, para as raízes europeias dos nossos antepassados. Podemos aprender muitas lições com estas observações, especialmente no campo espiritual: Nunca brincarmos com o pecado, pois é um destruidor de vidas; lembrarmos o Criador nos dias da nossa juventude, para não nos tornarmos espiritualmente insensíveis devido à nossa exposição contínua à maldade do mundo; não servirmos a Deus ensinando os mandamentos do homem (por exemplo,o Calvinismo), mas sim proclamando a infalível e viva Palavra de Deus; evitar a complacência e a passividade não utilizando os nossos talentos; seguir o nosso arrependimento com uma dedicação total ao caminho da nossa santificação; não perdermos tempo, a nossa vida terrena é curta e em breve terminará; estarmos preparados para carregar a nossa cruz, morrer para o mundo e seguir Jesus, mesmo que isso exija grandes sacrifícios; submetermo-nos à mão instrutiva de Deus, mesmo que isso possa ser difícil escola de treino e perseverar na estrada estreita até ao fim, não desprezando as admoestações do Senhor nem perdendo a coragem quando Êle nos pune… porque depois tudo isso produz o fruto pacífico da rectidão naqueles que dessa maneira foram assim treinados” (Hebreus 12:5,11).
A maneira como se começa um viagem é importante, mas é igualmente importante a maneira como se termina. Salomão afirma: “No local onde uma árvore cai, aí ela ficará” (Ecles. 11:3). Nós vamos entrar na eternidade no estado espiritual em que nos encontrarmos ao morrermos, ou quando o Senhor vier e será algo final que não pode ser alterado depois. O Homem rico, no Hades, descobriu tarde de mais que a sua riqueza terrena e fama não o podiam salvar das chamas do Inferno. Nós podemos aprender lições importantes com as experiências de personalidades da história. Alguns exemplos, como os de Hebreus 11, merecem a pena ser seguidos, enquanto que outros devem ser evitados a todo o custo.
Estou em dívida com todos aqueles que desempenharam papel importante e construtivo na minha vida, assim como no meu ministério cristão. Os meus sinceros agradecimentos a todos os irmãos e irmãs no Senhor que contribuem para êste ministério de várias maneiras e oram por nós. “Que o Deus de toda a graça, que nos chamou para Sua eterna glória por Cristo Jesus, depois de terdes sofrido durante algum tempo vos aperfeiçoe, estabeleça, fortaleça e firme. A Êle toda a glória e domínio para todo o sempre” (1 Pedro 5:10-11).