Sherman Também Enfina Dominionismo

Prof. Johan Malan, Middelburg, South Africa

Dean Sherman é um de muitos proponentes do dominionismo. No seu livro “Guerra Espiritual para Todos os Cristãos” (YWAM casa publicadora, Seatle 1995), êle devota atenção especial a êste assunto no capítulo 8, “Utilizando a vossa autoridade dada por Deus”. De acôrdo com o que ensina, a autoridade divina deve ser usada por cristãos para incapacitar o reino de Satanás, de forma a começarem a governar o mundo por Cristo.

No capítulo 8, Sherman começa por explicar que Deus “deu o livre arbítrio ao homem bem assim como domínio ou autoridade… e que Êle nunca lha retirou” (pg.118). E depois indica que, devido à desobediência dos nossos primeiros pais, essa delegada autoridade caiu nas mãos de Satanás: “Deus transferiu parte da Sua autoridade para o homem, e o homem passou-a a Satanás” (pg.119).

Com o sub-título “Jesus deu para traz o que nós tinhamos dado”, Sherman diz: “Jesus também nos deu autoridade para operar: ‘Olhai, Eu dou-vos autoridade para pisar serpentes e escorpiões, e sôbre todo o poder do inimigo, e nada de modo algum vos molestará” (Lucas 10:19)… Todo o demónio, toda a cave, todo o culto e religião, toda a obra e toda a influência – estão sujeitos à autoridade que nos foi dada por Jesus… A autoridade mudou de mãos legalmente mais uma vez, e pertenceu de novo ao homem… Se não repreendermos firmemente o diabo, êle não será repreendido. Se não o empurrarmos para traz, êle não nos deixará. Depende de nós… Nós devemos prosseguir e exercer a nossa autoridade em nome de Jesus” (pg. 130-132).

O autor baseia grande parte da sua argumentação em 1 João 4:4 – “Maior é Aquele que está em vós, que aquele que está no mundo”. Êle admoesta depois os cristãos por não utilizarem êste grande poder e autoridade: “Muitos cristãos nunca viveram um minuto de vitória ou de paz desde que foram salvos… Como é que vamos combater os principados que assolam as nações se não pudermos ser vitoriosos?” (pg.128). Êle mostra claramente que a nossa responsabilidade não termina com vitórias pessoais sôbre o pecado e as tentações, visto que, na sua opinião, nós fomos especìficamente dotados de poder para atacar e remover os maus principados que agem sobre as nações. Isto é guerra espiritual estratégica, destinada a derrubar as fortalezas de Satanás no mundo. Êle diz que um  guerreiro de Cristo pode conseguir sòzinho o que quer que seja:

“Acreditamos realmente que Jesus e qualquer cristão são mais fortes que qualquer fôrça do universo? Haverá algum lugar onde eu possa ir, onde as fôrças à minha volta sejam  mais poderosas que Jesus em mim?… Esta sociedade secular, humanista e até satânica, é menos do que o que está dentro de todo o cristão” (pg.129). Êle diz que se nós não tomarmos parte na batalha, somos responsáveis pela perpetuação do reino de Satanás na Terra: “Temos de enfrentar o inimigo. Êle é um adversário derrotado, mas continuará a manter o seu terreno com êxito, até exercermos contra êle a autoridade que Deus nos deu” (pg. 134).

Sherman também se refere a Romanos 8:35-39 para mostrar que não existe qualquer poder no mundo que nos possa separar do amor de Deus. Êle está convencido de que nós podemos fazer confiadamente a guerra para a conquista do mundo para Deus, e assumir o nosso papel de soberanos e co-reinantes com Cristo.

Apreciação

Uma leitura superficial de Dean Sherman pode levar à conclusão errada, que êle é um homem que compreende e correctamente aplica as promessas bíblicas – um crente que está resolvido a usar a sua divina autoridade em todo o seu potencial, na batalha contra Satanás. A sua visão de libertar a humanidade da influência opressiva das fôrças malignas, pode soar muito corajosa para muitas pessoas. Se tal ideal se concretizasse, êle daria lugar a uma dramática manifestação do reino de Deus na Terra.

No entanto, tanto nos Estados Unidos como noutros lugares, não existe infelizmente evidência palpável de vitórias de vulto contra o reino de Satanás. Será que podemos culpar os cristãos fracos dêste estado de coisas, ou está Sherman a deturpar o nosso comando divino de proclamar Cristo ao mundo? Um exame cuidado dos ensinamentos do autor, revela-nos uma perigosa falta de correcta compreensão dispensacional da Bíblia. Êle interpreta erradamente aspectos-chave da luta entre a rectidão e o mal na dispensação da igreja, fazendo ao mesmo tempo uma palhaçada da contínua luta espiritual contra os principados, poderes e governantes do mundo, que, de acôrdo com êle, perderam legalmente a sua base de poder depois da primeira vinda de Cristo. Êle ensina que estes poderes malignos podem ser removidos ràpidamente e  individualmente, mesmo por cristãos que sejam suficientemente corajosos e de iniciativa para os expulsar.

Que evidência nas Escrituras nos apresenta êle para a eliminação rápida do mal? A secção em Romanos 8:35-39 descreve-nos um cenário totalmente diferente daquele que Sherman tem em mente. Nessa secção é-nos mostrado, que os cristãos estão envolvidos numa prolongada batalha, em que podem encontrar pela frente tribulações, angústia, e perseguições por parte de fôrças malignas. Que podem até morrer como mártires por Cristo. Mas nenhuma destas coisas pode alterar ou  abalar a sua fé. Perseverar espiritualmente, claramente não quere dizer que tenham poder para derrubar fortalezas malignas na sociedade e vencer o inimigo. Significa simplesmente que, embora possam enfrentar oposição e pereseguição ou ser mortos na batalha, ninguém os pode arrancar da mão de Deus. Esta promessa nem mesmo nos dá a mais leve sugestão de cristãos receberem poder para conquistar e governar o mundo. Êles são passageiros e peregrinos no iníquo mundo presente (1 Pedro 2:11; Gal. 1:4).

A promessa feita aos 72 discípulos em Lucas 10:19, que teriam autoridade para pisar serpentes e escorpiões e sôbre todo o poder do inimigo, foi-lhes feita apenas para esta particular situação. Ela serviu o mesmo fim dos sinais especiais que se seguiram à prègação dos primeiros apóstolos, como consta em Marcos 16:17-18. Os professores John F. Walvoord e Roy B. Zuck dizem no seu (Comentário do Conhecimento Bíblico,  pg. 196): “Estes versos mencionam cinco tipos de sinais que acompanhariam os crentes. Sinais são acontecimentos sobrenaturais demonstrativos da origem divina da mensagem apostólica (Ver Marcos 16:20).Tais sinais autenticavam a fé proclamada pelos primeiros crentes, não a fé pessoal que qualquer dêles exercia. Tendo isto e a evidência histórica em vista, é razoável concluir que estes sinais eram normativos apenas para a era apostólica (Ver 2 Cor. 12:12; Hebr. 2:3-4).”

Se os cristãos fossem de facto instruidos no sentido de expulsar Satanás, e de o privar das suas bases de poder, a Bíblia por certo não teria sido tão clara ao afirmar o facto que durante esta era nós teriamos sempre de enfrentar o mal, e que a malignidade aumentaria no tempo do fim, conduzindo à grande tribulação sob a égide do dragão (Satanás), do Anticristo e do  falso profeta. Satanás apenas será derrubado como governante na segunda vinda de Cristo, altura em que será encarcerado no pôço sem fundo por mil anos (Apocal. 20:1-3).

Apesar destes factos bíblicos, há muitos professores cristãos, como Dean Sherman, George Otis, Cindy Jacobs, Ted Haggard, Peter Wagner e outros, que apresentam vistas diferentes. Êles têm muitos adeptos em todo o mundo, mas êxito digno de nota em termos dos seus objectivos, continua a fugir-lhes. A África do Sul também tem a sua quota nas experiências do reino-agora. Um cristão duma cidade no Cabo Ocidental, notou os incidentes seguintes: “Certo irmão veio com muita sinceridade à nossa cidade, para amarrar o diabo em nome do Senhor Jesus e pôr fim à sua destruidora actividade. Pouco tempo depois tal irmão abandonou a cidade, mas também deixou a trás o diabo – tão livre como dantes! Outros irmãos seguiram o seu exemplo, tentando mais uma vez amarrar Satanás e derrubar as suas fortalezas, mas sem qualquer resultado.”

O mesmo se pode dizer de inúmeros esforços semelhantes, por grupos de pessoas que tentaram expulsar o diabo e os seus espíritos territoriais de países como a América, a Turquia e Israel, ou de cidades como Jerusalém, Tel Aviv, Nova Yorque, Washington, Londres e Cidade do Cabo. Caminhadas em oração sem se dar o testemunho aos perdidos são comuns, e os missionários que não participam nestes métodos mal concebidos correm o risco de perder a sua credibilidade e apôio financeiro entre os crentes do reino-agora, que têm uma extraodinária tendência para os acontecimentos sensacionais e dramáticos.

A Bíblia promete vitória pessoal a cada crente na luta contra o diabo, mas o panorama mundial continuará a deteriorar cada vez mais perto do fim, à medida que o pecado alastra num mundo rebelde que rejeita Cristo. Isto conduzirá à grande tribulação sob o maligno reino do Anticristo (Mat. 24:21). Nós devemos travar a bôa batalha da fé até à vinda de Cristo (1 Tim. 6:12; Lucas 21:36). O Seu reino será manifestado pùblicamente apenas quando Êle vier como Rei dos reis – não antes disso.