A Necessidade do Novo Nascimento

(The necessity of Rebirth)

Prof. Johan Malan, Middelburg, África do Sul

Ler as Escrituras: “Havia um homem dos fariseus chamado Nicodemo, chefe entre os judeus. Êste homem veio ter com Jesus à noite e disse-lhe: Mestre, nós sabemos que Tu és um  mestre vindo de Deus, pois nenhum outro pode fazer estes sinais que Tu fazes, a não ser que Deus esteja com êle. Jesus respondeu-lhe dizendo, certamente te digo, a não ser que uma pessoa nasça de novo não pode ver o reino de Deus. E Nicodemo disse-Lhe, como é que um homem pode nascer quando é velho? Pode êle entrar segunda vez na barriga da mãe e nascer? E Jesus respondeu, com toda a certeza te digo, a não ser que  uma pessoa nasça da água e do Espírito, ela não pode entrar no reino de Deus. Aquele que nasce da carne é carne, e o que nasce do Espírito é espírito. Não te espantes que Eu te  tenha dito tu tens de nascer de novo…Nicodemo respondeu dizendo-Lhe, como é que isso pode ser? E Jesus respondeu dizendo-lhe, és tu o mestre de Israel e não sabes estas coisas?” (João 3:1-10).

Nicodemo era um dos moderados e de mente mais aberta entre os membros do Sanhedrin em Israel. Êle estava impressionado com o ministério de Jesus, especialmente com o Seu poder divino para fazer milagres, e queria saber mais. Os seus colegas odiavam Jesus, e assim resolvera ir ter a sós com Êle à noite. E dirigiu-se a Jesus numa base de igualdade como mestre, reconhecendo no entanto o facto que Deus estava com êle. Jesus não era igual a êste fariseu, mas muito superior a Êle por ter vindo das alturas. João Batista disse: “Aquele que vem do Céu está acima de todos” (João 3:31). O Senhor Jesus sabia muito bem que os problemas espirituais de Nicodemo se deviam à sua ignorância. Êle praticava uma religião morta e legalista, baseada em acções e ritos exteriores, enquanto que o seu coração estava frio e afastado do Senhor.

Jesus acentuou logo êste ponto, mencionando claramente a êste homem a solução para tal forma de morta rectidão: “Com toda a certeza te digo, que se uma pessoa não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Nicodemo não podia conceber que uma pessoa pudesse nascer segunda vez, pois estava a pensar num renascimento físico. E então o Senhor Jesus explicou-lhe que, pela segunda vez, significava que êle tinha de nascer das alturas, pelo Espirito Santo. Êle tinha de ser avivado espiritualmente recebendo um novo coração. Nicodemo foi criticado por não ser capaz de compreender. Êle era perito no Velho Testamento e devia ter compreendido que Deus espera uma mudança de coração no Seu povo. Jesus disse-lhe: “És tu o mestre de Israel e não sabes estas coisas?” Êle não conseguia compreender o assunto focado por Jesus, porque o seu coração não estava correctamente inclinado para Deus.

O comando mais importante que Deus deu a Israel no Velho Testamento foi: “Sêde santos porque Eu sou Santo” (Lev. 11:44-45). Êste mesmo comando também se aplica a nós no Novo Testamento (1 Pedro 1:15-16). A verdadeira santidade, que reflete a imagem de Deus, só pode vir do interior, de um coração mudado em que os princípios da justiça de Deus são escritos pelo Espírito Santo nas lousas de carne do coração (2 Cor. 3:3). Isso determina a moralidade da nossa vida e muda a nossa personalidade e estilo de vida para melhor, transformando-nos em portavozes do Senhor. A santidade não pode ser imposta artificialmente do exterior pela observância de certas formas de conduta, pois, funcionando em associação com um coração depravado, tal situação daria em resultado hipocrisia. Uma pessoa assim, é como um túmulo muito branco, que de fóra parece belo e até religioso, mas que por dentro está cheio de ossos de mortos. Devido à sua morte espiritual, a sua pretensão exterior é falsa; ela mantém normas duplas e não pode falar pelo Senhor. Nem compreende mesmo as coisas do Senhor e possui uma compreensão muito limitada e distorcida dos assuntos espirituais.

No Velho Testamento havia vários crentes de relêvo, cujos corações foram mudados pelo Senhor. Hebreus 11 contém uma lista de honra com os nomes de heróis da fé dessa época. Todos êles podiam dar testemunho da mudança dos seus corações: “E o Senhor vosso Deus circuncidará o vosso coração e o coração dos vossos descendentes, para amardes o Senhor vosso Deus com todo o coração e com toda a vossa alma, para que possais viver” (Deut. 30:6). Êles receberam uma transplantação espiritual do coração (Ezeq. 36:25-27). Mas a maior parte dos israelitas enveredava muitas vezes por modos de vida perniciosos, por não possuir corações circuncidados ou transformados. Em Jeremias 4:4,  Israel é avisado no sentido de circuncidar os corações para o Senhor, para que a Sua  fúria não caia sôbre êles como fôgo, devido às suas más obras.

Uma característica de corações crentes e circuncidados, é que essas pessoas acreditam verdadeiramente em Deus e Seus profetas, e caminham de acôrdo com os Seus preceitos: “Ouve-Me ó Judá e vós habitantes de Jerusalém: Acreditai no Senhor vosso Deus e sereis estabelecidos; acreditai nos Seus profetas e prosperareis” (2 Cron. 20:20). Havia pouquíssimas pessoas que tinham corações transformados que as habilitassem a acreditar verdadeiramente no Senhor, a má-LO e a servi-LO. Êlas preferiam seguir as tradições religiosas de Israel, prestando apenas serviço de bôca ao Senhor. Em Isaías 29:13, o Senhor diz: “Esta gente aproxima-se de Mim com a bôca, e honra-Me com os lábios, mas afasta de Mim os corações, e o seu temor de Mim é ensinado por mandamentos dos homens”.

O Senhor Jesus referiu-se a estas palavras em Mateus 15:8-9, ao dirigir-Se aos judeus do século primeiro: “Esta gente aproxima-se de Mim com a bôca e honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. E adoram-Me em vão, ensinando como doutrinas os mandamentos dos homens”. Em Marcos 7:9 Êle afirma: “Vós rejeitais o comando de Deus para poder manter a vossa tradição”. Esta foi a mesma mensagem que Jesus deu a Nicodemo, pois a sua religião hipócrita não tinha valor algum por consistir de tradições e leis recebidas dos seus antepassados. O Senhor requere um coração transformado, que apenas Êle pode regenerar das alturas quando uma pessoa se volta para Êle de coração arrependido devido ao pecado. Nicodemo sentia-se evidentemente satisfeito com a sua auto-justificada forma de justiça, em que não havia remorso pelo pecado. Não admira que não tenha compreendido que tinha de nascer de novo!

Paulo também se referiu a esta profunda transformação espiritual a que o Senhor deseja trazer o Seu povo, isto é, a uma transformação do coração que habilite o povo a amá-LO de verdade: “Porque não é um judeu aquele que o é no exterior, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é um judeu aquele que o é no íntimo, e circuncisão é a que é do coração no Espírito e não na letra; cujo louvor não provém dos homens mas sim de Deus” (Rom. 2:28-29). De que serve uma vida exterior bem-parecida, se dentro de uma pessoa reside um coração negro, não regenerado, não-santo e descrente?

Infelizmente, uma forma morta de justiça e a hipocrisia eram também fenómenos muito comuns desde o comêço da dispensação do Novo Testamento. Seguiam-se doutrinas que não conduziam a uma transformação profunda do coração entre o povo, ou seja, ao renascimento. Durante o século primeiro, os escribas e os fariseus não tinham lugar para Jesus e Sua justiça, na sua teologia, e rejeitavam-nO por completo como Messias. Êle não se ajustava ao seu estilo legalista de vida e, além disso, o Senhor revelava pùblicamente

a condição enganosa e má dos seus corações. Êles constituiam blocos de tropêço para o reino do Céu, pois bloqueavam ao povo o caminho da salvação. O Senhor Jesus disse: “Vós fechais aos homens o reino do Céu, pois vós próprios não entrais n’êle nem deixais entrar os que estão a entrar” (Mat. 23:13).

Êstes falsos professores estavam apenas à procura de convertidos ao judaismo tradicional, instilando neles os seus próprios pontos de vista e práticas. “Vós viajais em terra e mar para ganhar um adepto, e quando o ganhais fazeis dele duas vezes mais filho do inferno que vós mesmos” (Mat. 23:15). Os dirigentes judeus odiavam Jesus porque Êle os chamava filhos do diabo (João 8:44) e também por expôr pùblicamente a sua infidelidade e falsa forma de justiça. Êles queriam ver-se livres d’Êle matando-O. Jesus disse-lhes: “Eu e Meu Pai somos um”. E então os judeus pegaram em pedras para de novo o apedrejarem. Jesus disse-lhes “Mostrei-vos obras bôas da parte de meu Pai. Por causa de qual dessas obras Me apedrejais?” E os judeus responram-Lhe dizendo, não Te apedrejamos por uma obra bôa, mas por blasfêmea e porque Tu sendo um homem consideras-Te a ti mesmo Deus” (João 10:30-33).

Sob muitos aspectos, nós encontramo-nos hoje em dia na mesma situação. Há por toda a parte no mundo teólogos que se opôem tão fortemente à divindade e atributos divinos do Senhor Jesus, que não hesitam em refutar as Suas declarações e fazem mesmo alegações blasfêmas contra Êle como Pessoa. Êles negam abertamente o nascimento virgem de Jesus por considerarem não-scientífico acreditar em tal coisa. No entanto, se Jesus não nasceu de uma virgem, também não foi concebido pelo Espírito Santo, e portanto não seria o Filho de Deus – nem seria Deus incarnado na carne. Nesse caso, Êle seria apenas um ser humano comum, com uma natureza pecadora. E nesse  caso, a Sua morte na cruz não teria qualquer poder salvador, pois Êle não seria o impoluto Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Como um mortal comum, não teria sido capaz de ressuscitar dos mortos e subir ao Céu.

O que é que o Senhor Jesus diria aos escribas modernos se, tal como Nicodemo, êles conversassem com Êle sôbre assuntos teológicos? Provàvelmente Êle também adoptaria uma resposta curta para a solução do seu problema dizendo-hes: “Vós não tendes um relacionamento com o Senhor; portanto, os vossos corações estão nas trevas, cheios de maldade e descrença. Se não nascestes de novo não podeis ver o reino do Céu”. Êle ter Se-lhes-ia revelado como Deus Filho, em quem reside corpòriamente toda a plenitude da Divindade (Col. 2:9). Isto não se teria harmonizado com a suas ideias, e assim teriam recebido também admoestação “Vós sois teólogos e professores e não sabeis estas coisas?” Os agnósticos modernistas terão de voltar aos princípios básicos do Evangelho, se realmente desejam reconciliar-se com Deus.

A falta de renascimento pode atribuir-se na maioria dos casos ao facto que há tradições religiosas estabelecidas, em que as pessoas são tocadas apenas física e mentalmente, não espiritualmente. Ritos físicos do exterior são ministrados aos membros de um grupo religioso por exemplo a circuncisão do Velho Testamento e o batismo no Novo Testamento. Êstes são acompanhados por ensinamentos e regras que são apenas decoradas mentalmente, e depois praticadas. Trata-se de mandamentos dos homens que depois se transformam em tradições herdadas de geração para geração. No entanto, o aspecto essencial do acordar espiritual ou renascimento, encontra-se ausente; por conseguinte não conduz a verdadeira fé nos corações das pessoas. Israel sofria exactamente do mesmo problema. Paulo disse: “Porque de facto o evangelho foi-nos prègado tanto a nós como a Êles; mas a palavra que êles ouviram não lhes trouxe proveito, porque não estava acompanhada pela fé nos que a escutaram” (Hebr. 4:2). Nos nossos dias, membros da igreja são declarados salvos devido a uma simples doutrina mentalmente aceite, sendo depois confirmados como “crentes” numa determinada igreja. Mas a maioria dêstes membros não pode dar testemunho de ter nascido de novo e de ter um coração transformado, visto que na realidade não acredita.

Depois há também o problema do retrocesso espiritual entre aqueles que estão de verdade salvos. Os galatas voltaram de uma vida de fé no Senhor Jesus crucificado, à observância da lei, submetendo-se à circuncisão, ao guardar o sábado judaico e a outras práticas legalistas. E desta maneira fizeram concessões à sua religião nacional e vangloriaram-se  na carne e obras legalistas, privando assim a cruz de Cristo da sua posição central na sua vida de fé. Paulo avisou-os gravemente contra esta tendência:“Vós que tentais     justificar-vos pela lei, afastastes-vos de Cristo, vós caístes da graça” (Gal. 5:4). Paulo estava certo ao salientar êste ponto. Êle disse aos galatas: “Longe esteja de mim, que eu me exalte senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo foi crucificado para mim e eu para o mundo. Pois em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a não-circuncisão servem para algo, mas sim uma nova criação. E para tantos quantos caminham segundo esta regra, paz e misericórdia sejam sôbre êles e sôbre o Israel de Deus” (Gal. 6:14-16).

Êle claramente disse à congregação que Deus olha para os corações. Quer êles fôssem judeus circuncidados ou não, ou, no contexto do Novo Testamento batisados ou não,  não é realmente importante. O Senhor quere ver se êles são espiritualmente pessoas novas através da regeneração. A Sua paz e misericórdia são oferecidas a todos quantos caminham de acôrdo com esta regra. Esta é a regra da regeneração a regra da nova criação. Apenas essas pessoas em Israel pertencem ao Senhor e são verdadeiros israelitas – o que significa “Soldados para o Senhor”.

Leitor, é a sua religião baseada na regra da nova criação? Pode você testemunhar que a sua vida mudou a um nível profundo, espiritual, e que as coisas antigas passaram e tudo agora se tornou novo? Paulo avisou Timóteo de que, particularmente no tempo do fim,  haveria muitas pessoas que apenas demonstram uma forma exterior de santidade, mas que ao nível espiritual continuam mortas nos seus pecados e trespasses: “Mas sabe isto, que nos últimos dias vão chegar tempos perigosos: Pois os homens serão amantes de si mesmos, adoradores do dinheiro, fanfarrões, orgulhosos, blasfemos, não obedecendo aos pais… amantes do prazer em vez de amarem a Deus, tendo uma espécie de santidade mas negando o seu poder. Afastai-vos dêsse tipo de pessoas” (2 Tim.3:1-5).

Tais pessoas não conhecem o poder regenerador do Espírito Santo nas suas vidas. Foram apenas batisadas e confirmadas, mas quanto ao resto, fazem a vida que querem. De acôrdo com critérios exteriores, como ritos e bôas obras da igreja, afirmam ser cristãos que estão a caminho do Céu. Mas enganam-se, pois são como a igreja em Sardis, de quem o Senhor Jesus disse: “Tens a fama de estar viva, mas estás morta” (Apoc. 3:1).

Regeneração refere-se à vida ressurrecta de Cristo, com a qual somos dotados quando estamos realmente salvos. Apenas isto nos dá um futuro de esperança. “Louvado seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Messias! Pela Sua ilimitada misericórdia nós   fomos renascidos para uma esperança sempre viva, através da ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos” (1 Pedro 1:3; Bíblia Ampliada). Quando somos equiparados à morte de Cristo depois de têrmos abandonado o homem anterior, nós somos espiritualmente renovados, e dotados com a vida ressurrecta do Senhor Jesus. Então podemos camimhar com Êle numa vida inteiramente nova. A nossa família e amigos podem verificar que a nossa vida se transformou fundamentalmente. É possivel podermos aínda falhar e pecar, mas corrigimos imediatamente o problema e continuamos a caminhar no Espírito – não na carne. O Senhor transforma-nos espiritualmente, para sermos luzes brilhantes no meio de uma geração corrupta. Afastamo-nos dos pecados que já cometemos, e esforçamo-nos por ser conformes com a imagem de Cristo.

O perdão dos pecados e o renascimento estão intimamente associados um ao outro, visto que o Senhor Jesus nos limpa dos pecados ao dar-nos uma nova vida com uma nova natureza, através do renascimento. A limpeza dos nossos pecados é a grande razão porque o Senhor Jesus veio ao mundo. João Batista disse-lhe: “Olhai! O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” João (João 1:29). Isto é um assunto vitalmente importante, porque a Bíblia afirma que o salário do pecado é a morte (Rom. 6:23). O Senhor Jesus salva-nos porque pagou na cruz o resgate pelos nossos pecados, de forma a podermos nascer de novo espiritualmente e partilharmos da Sua natureza santa.

Nós temos de considerar com clareza o nosso problema do pecado, se quizermos compreender porque motivo temos de nascer de novo. Depois da ascenção do Senhor Jesus, o Espírito Santo foi derramado para nos convencer dos nossos pecados e da rectidão de Cristo (João 16:8). E Êle começa pelo pecado essa parede de separação entre nós e Deus. Nós temos de compreender que todos fomos concebidos e nascemos em pecado, e que portanto temos uma natureza pecadora. Não há pessoa alguma sôbre a Terra entre as pessoas naturais, não-salvas, que seja justa não, nem uma   Todas são pecadoras  (Rom. 3:10-12).

Devido à Queda, o diabo tem a uma parte directa no facto de todas as pessoas nascerem com uma natureza pecdora (Rom. 5:12). Nós somos levados a pecar por tendências inatas isto é, pelo desejo inveterado da carne. Tiago diz: “Cada um é tentado quando é atraído pelos seus próprios desejos e se deixa levar. E então, quando o desejo se formou, dá origem ao pecado e, consumado o pecado êle traz a morte” (Tiago 1:14-15). O diabo tem um aliado nas vidas das pessoas isto é, nas suas naturezas caídas e pecadoras, através das quais opera. Nós devemos privá-lo de tal aliado, abandonando a natureza pecadora.

Olhemos para as obras da carne ou velha natureza nas nossas vidas, para todos os nossos habitos e disposições pecaminosas. O Senhor Jesus disse: “Quem quer que cometa pecado é escravo do pecado” (João 8:34). E Pedro disse: “…porque, por quem uma pessoa é vencida, por ela é também escravizada” (2 Pedro 2:19). O pecado produz hábito, pois êle afecta toda a nossa vida e personalidade, tornando-se parte delas. Torna-se um hábito, e aumenta de gravidade com o tempo. Se uma pessoa fuma, tem de continuar a fumar. Se uma pessoa bebe, tem de continuar a beber, se toma drogas, há-de sempre desejá-las, se tem ataques de zanga que conduzam a praguejar ou a bater nos outros, a pessoa é considerada uma pessoa violenta, e de má têmpera. Certos homens tornam-se tão agressivos, que até espancam as esposas. As pessoas assaltadas por pensamentos menos limpos, e desejos incontrolados, em breve dão expressão a essas paixões, e encontram-se então envolvidas numa teia de pecado e relações extra-maritais. Os desejos não controlados podem até conduzir a formas não-bíblicas de sexualidade. Da mesma maneira, nestas condições não existe limite para o materialismo e procura febril do dinheiro e honrarias.

Qual é a solução para todas estas obras pecadoras da carne? Devemos mencionr os nossos pecados quando os confessamos: “Se confessarmos os nossos pecados, Êle é fiel e justo para nos perdoar os nossos pecados e nos limpar de toda a iniquidade” (1 João 1:9). O Senhor não quere que continuemos a pecar, e por êsse motivo Êle também deseja libertar nos do domínio de hábitos pecadores. “Portanto, se o Filho vos libertar, de certo sereis   livres” (João 8:36). Lembremo-nos de que, quando Cristo nos liberta, não temos necessidade de sessões especiais para expulsar demónios, cura interior ou quebra de pragas de gerações. A obra de reconciliação de Jesus na cruz é perfeita e completa Êle destrói as obras do diabo nas nossas vidas e, através do Espírito Santo, dá-nos poder para vencer o pecado. Nós necessitamos apenas uma rendição completa à Sua pessoa, para sermos lavados de todo o pecado e iniquidade.

No entanto, devemos ir mais além da confisssão dos nossos pecados. A carne não crucificada, a velha natureza, deve ser rejeitada por nós ao pé da cruz, e confiar que o Senhor Jesus nos vista com a Sua natureza santa. O apóstolo Paulo avisou os membros salvos da congregação de Éfeso: “… que abandoneis a vossa antiga conduta, o homem velho que se corrompe com a sua concupiscência, vos renoveis no espírito da vossa mente e vos vistais com o novo homem, criado de acôrdo com Deus em justiça e verdadeira santidade” (Efés. 4:22-24).

Isto não é sempre uma coisa muito fácil, pois há níveis de limpeza e rendição mais profundos em certas pessoas, que têm de ser tocados. Inicialmente, nem todas as pessoas têm conhecimento de todas as facetas da carne e do pecado, que fazem barreira entre elas e o Senhor. A nossa rendição inicial para mortificar as obras da carne (Col. 3:5-7) deve prosseguir. Paulo diz: “Mas agora, deveis também abandonar estas coisas: a zanga, a ira, a malícia, a blasfêmea, a linguagem impura da vossa boca. Não mintais uns os outros, visto que vos despistes do velho homem com as suas obras, e vos vestistes com o novo homem” (Col. 3:8-10).

Depois de nos vestirmos por completo com a nova natureza, devemos fazer todos os possíveis por manter a velha natureza crucificada, de forma a não mais nos poder controlar de novo. Jesus diz: “Se alguém desejar seguir-Me, que se negue a si mesmo, carregue dia a dia a sua cruz e Me siga” (Lucas 9:23). Eu tenho de me identificar com a cruz do Senhor Jesus, por quem o mundo foi crucificado para mim e eu para o mundo” (Gal. 6:14). Desta maneira, se nós fomos unidos juntos com Cristo na semelhança da Sua morte, também o seremos na semelhança da Sua ressurreição” (Rom. 6:5).

O que acontecerá se nós fizermos concessões ao pecado, permitindo-o e aprovando-o nas nossas vidas, com a desculpa que todos somos pecadores? Então a carne ou velha natureza não está de facto crucificada, tornando-nos inteiramente inadequados para o serviço do Senhor: “Porque a carne opôe-se ao Espírito e o Espírito opôe-se à carne; e êstes são contrários um ao outro, de forma que nós não fazemos as coisas que desejamos” (Gal. 5:17).

Isto é uma situação de “check-mate” (no jôgo do xadrês), e uma receita para o desástre espiritual. No decorrer do tempo, a carne e as acções pecadoras vão-nos dominar, levando tais pessoas ao retrocesso espiritual, acabando na situação do filho perdido. Para êste, havia apenas uma solução, que era voltar à casa do pai com a confissão dos seus pecados. Caminhemos de preferência no Espírito, de harmonia com os princípios da nova vida, e então nunca seguiremos a concupiscência da carne (Gal. 5:16).

Uma das nossas regras como cristãos nascidos de novo, é que não devemos pecar. João  diz: “Meus filhinhos, eu escrevo-vos estas coisas para que possais não pecar. E, se algum pecar, temos um sacerdote junto do Pai, Jesus Cristo o justo. E Êle mesmo é a propiciação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos mas também para todo o mundo” (1 João 2:1-2). Isto não quere dizer que nunca mais pecaremos outra vez, mas que, se pecarmos devemos vê-lo como uma derrota espiritual nas nossas vidas com a qual ofendemos o Espírito Santo. Quando acontecer, devemos ir imediatamenete ao trono da graça do Senhor, para confessar os nossos pecados e os abandonar. Nunca aceiteis o vosso pecado apaziguando-o e escondendo-o em segredo: “Aquele que esconde os seus pecados não prosperará, mas quem quer que os confesse e os abadone obterá compaixão” (Prov. 28:13).

Sigamos nas nossas vidas a regra de 1 João 1:7: “Se caminharmos na luz como Êle está na luz, nós temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo Seu Filho lava-nos de todo o pecado”. A expressão “lava-nos” está escrita no tempo contínuo do verbo grego, o que significa que, se nós seguirmos o Senhor com um coração não dividido e caminharmos na luz, viveremos a experiência de sermos lavados contìnuamente do pecado pelo Seu sangue. Mas esta vantagem não é gozada pelas pessoas que vivem em pecado voluntàriamente, com persistência e sabendo que estão a proceder mal. Elas não caminham no Espírito, mas dão mão livre à carne, e estão a seguir estrada abaixo para a auto-destruição, porque, quando o pecado é consumado, êle traz consigo a morte. Nós não podemos viver vidas dominadas pelo pecado e depois morrer justificados.

Confiemos no Senhor para nos lavar com o Seu sangue e nos encher com o Seu Espírito Santo, para podermos resistir a todas as tentações para pecar. Mantenhamo nos firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não nos tornemos de novo escravos do pecado. Depois de termos entrado pela porta estreita da regeneração para caminhar no caminho estreito, o Espírito Santo está sempre presente para nos fortalecer diàriamente e para nos guiar nas verdades eternas da Palavra de Deus. Perseveremos neste caminho novo e vivo, e não olhemos mais para tràs depois de têrmos posto a mão na charrua. (Lucas 9:62).