Zacarias 11: Rejeição do Bom Pastor

Zacarias é um profeta de esperança. Nos capítulos 9 e 10 são discutidos os temas esperançosos dos julgamentos sôbre os inimigos que rodeiam Israel, e a garantia que os judeus seriam protegidos de forma a verem a primeira vinda do seu Rei (9:9) e a Sua Segunda Vinda (9:10), enquanto que o resíduo gozaria as bênçãos e vitória que o Messias trará a Jerusalém e ao Seu povo (9:11–10:12).

Mas de súbito, neste capítulo somos confrontados pelo facto que Zacarias não só proclama a esperança e a vitória como os falsos profetas, mas também a ira divina e o julgamento. Os falsos profetas tinham profetizado visões de paz para Jerusalém, quando não havia paz (Ezequiel 13:16; veja-se também Jeremias 8:11). Zacarias não era culpado de dar falsas esperanças ao povo quando êste andava espiritualmente em êrro. Êle avisava-os das consequências graves para toda a nação, da rejeição do Bom Pastor e de aceitarem o pastor inútil (o falso messias).

Fala-se da vinda da ira (11:1-3)

O primeiro aviso àcêrca das consequências da cegueira espiritual de Israel e da sua rebelião contra Deus, foi que a terra e a sua vegetação seriam destruidas. As árvores seriam arruinadas e densas florestas morreriam. O luxuriante vale do Jordão desapareceria. Mesmo os leões que viviam nos bosques à volta do Jordão rugiriam devido à destruição do seu habitat natural (11:1-3). Isso de facto aconteceu e Israel transformou-se num deserto.

As razões para a devastação de Israel (11:4-14)

Zacarias foi instruido por Deus no sentido de descrever o verdadeiro Pastor-Messias de Israel e depois o mau pastor, que simbolizaria o Anticristo do tempo do fim. Esta passagem foca a atenção na condição espiritual de Israel no tempo do ministério de Cristo e nas consequências da rejeição do verdadeiro Pastor.

O comando: “Alimenta o rebanho para a matança” (11:4), implica a acção de dirigir o rebanho para algo, preparando-o assim para o que estava para acontecer. Israel foi avisado por vários profetas da próxima ira de Deus, para se certificarem que teriam pleno conhecimento do que lhes aconteceria se virassem as costas a Deus. Os dois últimos profetas, ou pastores, que os avisaram foram João Batista (Mateus 3:7) e o Messias Jesus (Mateus 23:13-39). Jesus disse aos habitantes de Jerusalém: “Os dias virão sôbre vós, em que os vossos inimigos construirão uma rampa à vossa volta, vos cercarão e vos fecharão de todos os lados, e vos derrubarão ao chão e aos vossos filhos convosco; e êles não deixarão em vós pedra sôbre pedra, porque não conhecesteis a hora da vossa visitação” (Lucas 19:43-44). 

Deus tinha destinado Israel a ser derrotado pelos romanos, devido à sua rejeição do Messias-Rei, Jesus, e de ter preferido servir o rei pagão. Pilatos disse aos judeus: “Olhai o vosso Rei!” Mas êles disseram: Fora com Êle, fora com Êle! Crucificai-O! E Pilatos respondeu-lhes: Irei eu crucificar o vosso Rei? Por sua vez os sacerdotes principais disseram: Não temos outro rei além de César! E, assim, êles entregaram-NO para ser crucificado. Portanto pegaram em Jesus e levaram-NO” (João 19:14-16).

A destruição de Jerusalém e o princípio da dispersão internacional ocorreram no ano de 70 AD. Durante o cêrco e conquista da cidade morreu um milhão e cem mil judeus e os restantes 97 mil foram levados  cativos. Muitos foram vendidos nos mercados de escravos e outros foram dispersos por vários países. Porque êste julgamento era especìficamente  dirigido aos judeus que rejeitaram o Messias, os discípulos de Jesus foram avisados de antemão para abandonar a cidade. Jesus disse-lhes: “Quando virdes Jerusalém cercada por exércitos, então sabei que a desolação está perto. Então, que os que estão na Judeia fujam para as montanhas e que os que estão no meio dela partam, e não deixeis que os que se encontram no campo entrem nela. Porque êstes são os dias da vingança, para que todas as coisas que estão escritas se cumpram… Haverá grande angústia na terra e ira contra êste povo. E êles cairão a fio de espada, e serão levados cativos para todas as nações. E Jerusalém será pisada por gentíos até se cumrprirem os tempos dos gentíos” (Lucas 21:20-24). Os judeus messiânicos evacuaram Jerusalém depois do primeiro cêrco em 66 AD, em antecipação do cêrco romano final em 70 AD.

A devastadora carnificina do rebanho tresmalhado ocorreu exactamente como tinha sido profetizado. O seu Rei, que veio como pessoa humilde montado num burro, foi rejeitado e crucificado. Êles não deram ouvidos ao Seu convite à salvação nem aos Seus avisos de iminente desastre. Quem é que os enganou e levou a contemplar a sua própria queda? Isso foi obra dos falsos pastores. Os dirigentes espirituais de Israel eram cegos e ignorantes. Eram os maus pastores que não tinham pena do rebanho vendendo-o às fôrças da escuridão (11:5). Os pastores maus tinham como pai o diabo (João 8:44) e não se preocupavam com o que faziam ao seu próprio povo. Devido à sua decisão deliberada de rejeitar o Bom Pastor, Deus disse: “Não mais vou ter pena dos habitantes da terra” (11:6).

O rebanho seria alimentado para o açougue usando dois bordões, um chamado Beleza (graça) e o outro Laços (união). O Bom Pastor prometeu a Sua graça (perdão) ao rebanho, frisando ao mesmo tempo a sobrevivência de um Israel unido (a união das casas de Israel e Judá) mesmo no meio do julgamento que caira sôbre elas (11:7). “Os pobres do rebanho” são os judeus messiânicos que obedeceram às palavras do Pastor.

Em 11:8 o Senhor diz: “Eu demiti os três pastores num mês. A minha alma odiou-os e a sua alma também me aborreceu”. Os três pastores maus são provàvelmente referência aos três dirigentes políticos e religiosos de Israel, visto que não obedeciam a Deus nem aceitavam a autoridade do seu Sacerdote-Rei, o Pastor. Os três pastores maus que os governavam ao tempo da crucificação de Jesus eram o sumo sacerdote Caifás (Mateus 26:57-68), que levou o Conselho Judaico e toda a nação a rejeitar Jesus como Messias, Pôncio Pilatos, o governador romano que representava o govêrno gentio inaceitável sôbre Israel e erradamente entregou Jesus para ser crucificado (Mateus 27:11-31) e o rei Herodes, que tratou o verdadeiro Rei de Isreal com o maior desprezo e o devolveu aos carrascos sem verificar o veredicto contra Êle (Lucas 23:7-11). Nenhum dêstes três “pastores” agiu à base de sã evidência, e Jesus rejeitou as suas acusações falsas nem sequer lhes respondendo. Caifás foi mais tarde deposto por um governador sírio do Império Romano, Pilatos foi deposto e banido por corrupção e terminou os seus dias suicidando-se, enquanto que Herodes Antipas foi deposto e exilado até morrer. Todos êles selaram o seu destino no mesmo mês em que traíram Jesus.

Os dirigentes judaicos internos bàsicamente responsáveis pela conspiração contra o Messias, eram os sacerdotes principais, os anciãos, os escribas, os fariseus e os saduceus (Mateus 16:6; 21:45-46; 26:57; 27:12,62-63). Êles instigaram a nação inteira contra Jesus, até mesmo ao ponto de se oporem a Pilatos quando êste tentou salvá-Lo. E responderam dizendo: “Que o Seu sangue caia sôbre nós e os nossos filhos” (Mateus 27:22-25). Portanto, o rebanho inteiro trouxe uma maldição sôbre si mesmo, entregando-se para serem mortos.

O Bom Pastor partiu então o Seu bordão Beleza em dois, o que simboliza a  quebra do Seu contrato com o povo mau que O rejeitou (Veja-se Mateus 21:33-45). Depois entregou-os à fome, até ao ponto de terem de comer a carne uns dos outros e de perecerem (11:9-10). Estas calamidades caíram sôbre a geração de contemporâneos do Bom Pastor (Mateus 23:34-36). Mas êstes dias nêgros não os podiam ter surpreendido por completo, visto que êles  tinham sido descritos em pormenor por Moisés: “Se não obedecerdes à voz do Senhor vosso Deus… todas estas maldições virão sôbre vós e vos vencerão… O Senhor enviará de longe uma nação contra vós… Cercar-vos-á em todos os portões até que se desmoronem as vossas altas e fortificadas muralhas em que confiais… comereis o fruto dos vossos próprios corpos, a carne de vossos filhos e filhas que o SENHOR vosso Deus vos tinha dado, isto durante o cêrco e desespêro com que os vossos inimigos vos afligirão” (Deuter. 28:15,49,52-53). Estas profecias cumpriram-se literalmente em AD 70, durante a conquista e queda de Jerusalém pelos exércitos romanos.

Os pobres de entre o rebanho (o resíduo crente de Israel) comprenderam os avisos do Messias e obedeceram-lhes (11:11). E escaparam aos desastres iminentes (Lucas 21:20-21) por não terem seguido os profetas falsos nem vergarem o joelho a Baal.

A venda do Messias pelos dirigentes de Israel é descrita como segue por Zacarias: “Então Eu disse-lhes, se estais de acôrdo, dai-me os meus salários; e se não estais, não o façais. Assim, êles contaram para meu salário trinta moedas de prata. E o SENHOR disse-me – dá-o ao oleiro” (11:12-13). A ideia que Israel tinha do valor do verdadeiro Pastor eram 30 moedas de prata, que era a compensação usual dada aum escravo ferido por um touro (Êxodo 21:32). A escolha do preço pago ao escravo constituia um insulto ao Pastor, e era pior que uma recusa directa de Lhe pagarem qualquer salário. Esta profecia foi literalmente cumprida: “Então um dos dôze, chamado Judas Iscariote, dirigiu-se aos sacerdotes principais e disse-lhes: Quanto é que estais dispostos a pagar-me, se eu vo-Lo entregar? E êles contaram-lhe trinta moedas de prata” (Mateus 26:14-15). Mais tarde, quando Judas devolveu o dinheiro, êste foi usado para a compra do talhão do oleiro (Mateus 27:3-10).

O outro bordão do Pastor (laços) foi também partido em dois (11:14) e retrata a dissolução da solidariedade nacional em Israel. A discórdia na nação, foi um dos factores importantes que conduziram à destruição de Jerusalém em AD 70 a que se seguiu a dispersão mundial.

Consequências finais da rejeição do verdadeiro Pastor (11:15-17)

Depois de rejeitar o verdadeiro Pastor, o rebanho de Israel não seria apenas morto, expulso da sua terra e disperso pelas nações, mas perpetuaria também a sua cegueira espiritual continuando a seguir pastores falsos. No tempo do fim, seria restaurado à sua terra por Deus, para sofrer aínda mais aflições e a ira divina por ser tão cego e rebelde como os seus enganados antepassados que traíram o Messias (Veja-se Ezequiel 22:19-22; Jeremias 30:7). A sua cegueira espiritual e falta de discernimento levarão à conclusão de um acôrdo com o falso messias, o Anticristo. O verdadeiro Pastor disse: “Eu vim em nome de Meu Pai e não Me recebeis; se outro vier em seu próprio nome a êsse vós recebereis” (João 5:43). Na sua total loucura, afastados de Deus, da Sua Palavra e do Seu Filho, êles abraçarão o falso messias:

“E o Senhor disse… certamente eu levantarei um pastor na terra, que não se importará com os que estão de fora, nem procurará os jóvens, nem curará os quebrados, nem alimentará os que aínda estão de pé. Mas comerá a carne dos gordos e cortará em pedaços as suas unhas. Ai do pastor inútil que abandona o rebanho! Uma espada será contra o seu braço e contra o seu ôlho direito; o seu braço secará por completo e o seu ôlho será totalmente cego” (11:16-17).

Israel aceitará êste pastor louco e sem valor, que actuará em verdadeira oposição ao Messias, o verdadeiro Pastor. A palavra hebraica traduzida por “louco” sugere uma pessoa louca, rude e endurecida. Êste pastor não se importará com o rebanho e as suas necessidades; estará interessado apenas na sua própria avidez. Em vez de defender o rebanho, o pastor louco irá destrui-lo. O braço simboliza a sua fôrça e o ôlho a sua inteligência. A sua fôrça será quebrada e a sua loucura totalmente revelada, quando o verdadeiro Pastor regressar. O falso pastor e o seu companheiro, o falso profeta, serão condenados ao lago de fôgo (Apocalipse 19:20).

Êste capítulo em Zacarias salienta claramente o facto que, espiritualmente falando, há apenas dois grupos de pessoas em Israel e no mundo – os não-salvos que são filhos do diabo (João 8:44), e os salvos que são filhos de Deus (Filip. 2:15). “Aquele que tem o Filho tem vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem vida” (1 João 5:12). Não há meias medidas; ou se segue o verdadeiro Pastor, ou uma pessoa estará a seguir qualquer falso pastor que prapara o caminho para o falso messias do fim dos tempos, o Anticristo. Como seguidor do verdadeiro Pastor, uma pessoa herda a vida eterna e as abundantes bênçãos do Senhor, mas os seguidores do mau pastor herdarão os julgamentos de Deus e a morte eterna no lago de fôgo.

Todas as pessoas possuem vontade própria e necessitam de fazer uma escolha definitiva e aceitar Jesus Cristo como seu Salvador. Ser membro do Povo Escolhido (Israel) ou de uma igreja cristã, não qualificam uma pessoa automàticamente como seguidora do Messias. Todas as pessoas nasceram em pecado e têm de efectuar uma dedicação transformadora ao único Salvador do mundo – Jesus Cristo. Êle foi destinado ao levantamento e queda de muitos em Israel e como um sinal contra o qual se falaria (Lucas 2:34). David orou: “Ó SENHOR meu Deus; abre os meus olhos, para que não durma o sono da morte” (Salmo 13:3). Já vos levantásteis para uma vida nova n’Êle?  “Acordai, ó vós que estais a dormir, levantai-vos dos mortos e Cristo dar-vos-á luz” (Efésios 5:14). Ignorá-LO ou rejeitá-LO, aceitando argumentos sem substância dizendo que Êle não é realmente o Messias e o Filho de Deus prometido, é caminhar na escuridão e promover a ruina eterna de uma pessoa.

A cegueira espiritual que foi levada a Israel por falsos pastores, será anulada durante a Segunda Vinda do Messias. Êste é o assunto dos dois capítulos seguintes de Zacarias. Daniel confirma o facto que as transgressões de Israel terão fim juntamente com os seus pecados, no final do septuagésimo ano-semana de história divina depois do cativeiro na Babilónia (Daniel 9:24). Isto  é o próximo período de tribulação de sete anos. Deve-se levar em conta, que a dispensação da igreja, ou tempos dos gentíos, foi estabelecida depois do sexagésimo nono ano-semana, quando Israel rejeitou o seu Messias-Rei. Quando o falso messias vier depois da dispensação da igreja, Israel assinará um contrato com êle por sete anos (Daniel 9:27), e no final desse período o  Messias voltará. E então, durante um arrependimento nacional, os pecados de Israel serão perdoados, e haverá reconciliação pela sua iniquidade. A nação será espiritualmente reavivada, para servir o Senhor de corações puros. Durante o subsequente reino de paz do Messias, a rectidão eterna amanhecerá então para Israel.