Êste capítulo discute a última das visões noturnas de Zacarias, assim como um acto simbólico que termina com as visões.
Zacarias diz: “Olhei e vêde, quatro carros saíam de entre duas montanhas de bronze. Com o primeiro carro estavam cavalos vermelhos, com o segundo cavalos pretos, com o terceiro cavalos brancos e com o quarto cavalos grisalhos – cavalos fortes… E o anjo disse-me: “Êstes são quatro espíritos do céu que partem da sua posição junto do Senhor de toda Terra. Aquele que está com os cavalos pretos vai para o país do Norte, os brancos vão atràs dêles e os grisalhos vão para o país do Sul… E assim marcham para tràs e para diante através da Terra” (6:1-7).
Esta visão lembra-nos a primeira, com cavalos saindo da presença do Senhor e marchando por toda a Terra. No entanto, os cavalos desta visão estão atrelados a carros de combate, para executarem o julgamento de Deus sôbre os gentíos. Não se faz qualquer menção de quaisquer cavaleiros ou condutores dos carros. Os quatro carros de combate com cavalos de cores diferentes falam-nos da universalidade do julgamento divino, que irá em todas as direcções através da Terra.
As cores são significativas, visto que o vermelho simboliza guerra e derramamento de sangue, o preto significa morte e fome, o branco significa triunfo e vitória e o grisalho representa pestilências e pragas. Êstes cavalos têm uma missão semelhante à dos quatro cavalos apocalípticos descritos por João em Apocalipse 6. O cavalo branco refere-se ao Anticristo como conquistador e falso principe da paz, o vermelho denota derramamento de sangue e guerra, o preto tipifica fome e pestilências enquanto que o cavalo pálido faz a colheita para a morte e Hades.
O anjo intérprete explicou a Zacarias o significado dos cavalos com os seus carros. Os quatro espíritos do céu podem referir-se a anjos do julgamento divino (Veja-se Apocalipse 7:1) ou ao poder do Espírito de Deus para levar a cabo os Seus propósitos judiciais, ou a ambas as coisas. “Porque, olhai, o SENHOR virá com fôgo e com os Seus carros, como uma ventania, para derramar a Sua ira com fúria e a Sua repreensão com chamas de fôgo. Pois com fôgo e com a Sua espada o SENHOR julgará toda a carne; e os mortos do SENHOR serão muitos” (Isaías 66:15-16).
O título divino “O Senhor de toda a Terra” é uma descrição milenial do govêrno universal do Messias sôbre a Terra durante a futura era do reino. O país do Norte refere-se à Babilónia, cujas invasões de Israel vinham do Norte, enquanto que o país do Sul se refere ao Egipto. O Norte e o Sul são as únicas direcções mencionadas, visto que isso se justificava devido à situação de Israel. No entanto as outras direcções são implícitas, pois os carros movem-se para a frente e para tràs por toda a Terra.
Os cavalos e os carros de combate aparecem em cena de entre duas montanhas de bronze. Isto é altamente significativo, uma vez que o bronze simboliza o divino julgamento contra o pecado. A serpente de bronze que Moisés fabricou no deserto, era um sinal do julgamento divino da nação. As pessoas que olhassem para a serpente eram perdoadas e viviam (Números 21:9). A serpente de bronze simbolizava o sacrifício do Cordeiro de Deus na cruz, em que carregou sôbre Si a ira de Deus destinada a todos os pecadores (João 3:14-15; Isaías 53:4-5). Êle caminhou a estrada do sofrimento por causa dos pecados da humanidade perdida, portanto “os Seus pés eram como bronze fino refinado numa fornalha” (Apocalipse 1:5).
As duas montanhas de bronze em Zacarias 6, o mais provável é referirem-se ao Monte Sião e ao Monte das Oliveiras. O vale entre estas duas montanhas é chamado Kidron e Jehoshaphat, uma área ìntimamente ligada ao julgamento divino (Joel 3:2). Zacarias diz que o Messias pousará os pés no Monte das Oliveiras (14:4). Em Apocalipse 19:20 diz-se que o falso messias (o Anticristo) e o falso profeta serão ambos capturados no dia da Segunda Vinda do Messias e lançados vivos no lago de fôgo. O lugar onde êste julgamento vai ter lugar é o vale entre Sião e Olivet – referido como Jehoshaphat que significa O SENHOR julga.
Dali, os carros do julgamento divino sairão em todas as direcções através do globo, sendo-lhes comandado julgar os iníquos. Joel diz: “O SENHOR rugirá também de Sião e fará ouvir a Sua voz de Jerusalém; os céus e a Terra tremerão” (Joel 3:16). Isaías diz que no dia do Senhor tudo quanto fôr orgulhoso e altaneiro será rebaixado e que apenas o Senhor será exaltado (Isaías 2:12,17). O dia do Senhor virá do Todo Poderoso como destruição. Êsse dia será cruel, tanto com ira como com zanga feroz. Êle castigará o mundo pela sua maldade e os iníquos pela sua iniquidade. Os pecadores serão destruidos e poucos mortais serão deixados com vida. A Babilónia será como quando Deus destruiu Sodoma e Gomorra. Nunca mais será habitada (Isaías 13:6,9-12, 19-20; veja-se também Jeremias 51:61-64).
No final desta visão Deus fala a Zacarias dizendo: “Vê, os que vão para o país do Norte deram descanso ao Meu Espírito no país do Norte” (6:8). É facto bem conhecido, que a Bíblia identifica a Babilónia – também referida como Shinar ou o País do Norte – como a origem de todas as formas de rebelião organizada contra Deus, no mundo. Esta rebelião manifesta-se como uma larga lista de crenças e instituições provenientes do reino de Satanás, e inclui todas as religiões falsas baseadas na idolatria, necromância, bruxaria, astrologia, auto-deificação e práticas ocúlticas como a meditação transcendental, a clarividência, a projecção astral e a leitura da sina. Estas crenças espalharam-se por todo o mundo a partir da Babilónia.
A Babilónia é também o local de origem da rebelião política contra a ordem divina de nações independentes com fronteiras definidas e governos soberanos (Actos 17:26). O primeiro império mundial babilónico constituiu exemplo para a criação de vários impérios mundiais subsequentes, em que o homem se exaltou a si próprio e mesmo se deificou, dominou e oprimiu outras nações incorporando-as à fôrça no império mundial emergente, e entrou também em aliança com uma religião mundial falsa. O poder atingido por tais impérios, foi sempre utilizado contra o reino de Deus.
O último dêstes impérios será o império mundial do Anticristo, que será o arqui-inimigo do verdadeiro Cristo e do Seu povo, isto é, de Israel e dos crentes cristãos de entre todas as nações. O Anticristo vai fazer-se passar por um Deus-homem (2 Tessalonicenses 2:4; Daniel 11:36) e unificará a dispersa religião babilónica num corpo ecuménico descrito na Bíblia como Babilónia-Mistério, e mãe das prostitutas (Apocalipse 17:3-5). Êle vai também centralizar toda a autoridade política no seu estado mundial, reconstruir a Babilónia e controlar o mundo a partir dalí (Apocalipse 18).
Em Zacarias 5:5-11, o falso sistema babilónico de adoração será transferido para a Babilónia, em preparação para a destruição final da cidade. Em Zacarias 6:1-8, todas as nações são julgadas por serem dominadas pelo espírito babilónico da iniquidade e rebelião contra Deus. Quando isto tiver sido feito, o Espírito de justiça e julgamento de Deus descerá sôbre o país do Norte, onde todo o mal começou. A cena estará então pronta para o Rei de toda a Terra tomar o govêrno sôbre os Seus ombros e reinar de Jerusalém.
As oito visões noturnas terminaram com uma ordem dada a Zacarias no sentido de representar um acto simbólico, coroando o sumo sacerdote Josué, como rei: “Pega na prata e no ouro, faz uma coroa rendilhada e coloca-a na cabeça de Josué… o sumo sacerdote. Depois fala-lhe dizendo: Olha o Homem cujo nome é o RAMO! De onde Se encontra, Êle se ramificará, e construirá o templo do SENHOR. Êle receberá a glória, e sentar-se-á e reinará do Seu trono; e assim Êle será um Sacerdote no Seu trono, e o conselho da paz será entre ambos” (6:11-13).
Josué representava “o Ramo”, o Messias que construirá o futuro templo e será tanto Principe como Rei. O acto simbólico da coroação de Josué tem apenas cumprimento no tempo do fim, visto que, durante o Velho Testamento, era impossível um sumo sacerdote ser coroado rei. Os reis pertenciam à linhagem real de David, da tribo de Judá, enquanto que os sacerdotes eram escolhidos apenas entre a linhagem de Levi. Um rei não podia ser nomeado sumo sacerdote, nem um sumo sacerdote podia servir como rei. No entanto, quando o Messias vier, o Seu sacerdócio terá como base a ordem de Melquizedeque, que foi o sacerdote-rei de Salem – o local que mais tarde seria Jerusalém. Êle era um tipo de Messias: “Porque êste Melquizedeque, Rei de Salem, sacerdote do altíssimo Deus…(era) sem genealogia, não tendo princípio de dias ou fim de vida, mas feito como o Filho de Deus, permanece contìnuamente um sacerdote” (Hebreus 7:1-3; veja-se também Hebreus 7:11-28 em relação ao sacerdócio eterno do Messias).
O Ramo da casa de David será um Rei que reinará e prosperará (Jeremias 23:5) e também construirá o templo do SENHOR (Zacarias 6:8). E será um descendente de David da linhagem real de Judá, que exercerá um sacerdócio eterno na ordem de Melquizedeque. Além de ser um Sacerdote-Rei, Êle é também o perfeito Deus-homem. Como Filho do homem, Êle nasceu de uma família judaica, mas devido à concepção sobrenataural da virgem Maria pelo Espírito Santo, Êle é também o Filho de Deus. O anjo disse a Maria: “O Espírito Santo descerá sôbre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; portanto, êsse Santo que vai nascer será também chamado o Filho de Deus” (Lucas 1:35). Foi também anunciado que “O Senhor Deus Lhe daria o trono de Seu pai (terreno) David. E Êle reinará sôbre a casa de Jacob para sempre” (Lucas 1:32-33).
No entanto, como Filho de Deus, Jesus Cristo é o grande EU SOU que existiu desde sempre (João 8:24-58). Êle é o Senhor de toda a Terra, que é descrito de direito por Zacarias como “o SENHOR meu Deus” (14:5). Muitos anos mais tarde, as dúvidas de Tomaz foram-lhe desfeitas ao ajoelhar-se diante do Salvador do mundo, ressuscitado, dirigindo-se-Lhe reverentemente como “meu Senhor e meu Deus” (João 20:28). Êle é “o verdadeiro Deus e vida eterna” (1 João 5:20).
O Senhor Jesus há-de vir segunda vez, para julgar os Seus inimigos e reinar do restaurado trono de David em Jerusalém. Êste “Filho”que nasceu na casa de David, está destinado a reinar como Rei para sempre: “Foi-nos dado um Filho; e o govêrno será sôbre os Seus ombros. E o Seu nome será chamado… Deus Poderoso… Principe da Paz. Não haverá fim para o incremento do Seu govêrno e da paz no trono de David” (Isaías 9:6-7).
Um aspecto notável da profecia de Zacarias é que Josué já era um sacerdote quando foi coroado rei. Da mesma maneira, Jesus já é um sumo sacerdote que nos administra a Sua graça e intercede por nós (Hebreus 4:14-16; 7:25). Num futuro próximo, a coroa real ser-Lhe-á acrescentada, quando vier de novo como o Rei dos Reis (Apocalipse 19:16).
A profecia em Zacarias 6:12-13 é do maior significado: “Assim fala o SENHOR dos exércitos: Olhai o Homem cujo nome é O RAMO! Êle Se estenderá do Seu lugar e construirá o templo do SENHOR; Sim, Êle construirá o templo do SENHOR. Êle receberá glória e sentar-se-á e reinará no Seu trono; e assim Êle será sacerdote no Seu trono e o conselho da paz será entre ambos”.
O Prof. C. Feinberg, eminente judeu messiânico e professor do Velho Testamento, salienta o profundo significado dêstes dois versos, como segue: “Esta é uma das mais notáveis e preciosas profecias messiânicas, e não há mais clara declaração profética em todo o Velho Testamento no que diz respeito à pessoa do prometido Redentor, das funções que desempenharia e da missão que havia de cumprir”.
Em breve o poderoso Sacerdote-Rei de Israel e de todo o mundo chegará para julgar os Seus inimigos, para salvar o resíduo de Israel e para governar o mundo a partir de Jerusalém. Os Seus santos participarão da Sua glória e reinarão com Êle como reis.