Zacarias 3: A Salvação de Israel

As primeiras três visões mostram a libertação externa de Israel do cativeiro, a sua restauração física à terra, bem assim como a sua prosperidadde material. A pergunta que agora se levanta é como é que um Deus santo pode ter tais planos para um povo que continúa pervertido pelo pecado? Esta quarta visão mostra a limpeza interna do pecado, de Israel, e o retôrno à sua posição e funções sacerdotais.

A rectidão de Deus, que a lei e os profetas atestaram, foi totalmente revelada no Messias. Êle é o Salvador do mundo: “Mas agora, a rectidão de Deus separada da lei é revelada, sendo atestada pela Lei e pelos Profetas – a própria rectidão de Deus através da fé em Jesus Cristo para todos e sôbre todos os que acreditam. Porque não há diferença; pois todos pecaram e estão destituidos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela Sua graça por meio da redenção que há em Jesus Cristo” (Romanos 3:21-24). Israel e as nações devem todas ser salvas através da fé no Messias (Romanos 3:30; 10:12; Actos 15:8-9,11).

A limpeza e dedicação do sumo sacerdote Josué (3:1-10)

“Josué” significa “O Senhor salva” e êste é o tema principal dêste capítulo. Os participantes nesta visão são (a) Josué, o sumo sacerdote regressado da Babilónia com Zerubabel; (b) o Anjo do Senhor – o Cristo pre-incarnado já apresentado em 1:11-12; (c) Satanás o acusador; (d) anjos presentes; e (e) o profeta Zacarias.

Nesta visão Josué representa o povo de Israel, o que era típico da posição de sumo sacerdote. Êle intercedia pela nação, entrava no Santo dos Santos pelo povo, e carregava com o seu pecado. Portanto, a posição que lhe é atribuída nesta visão aplica-se a Israel e não a si próprio. A natureza representativa de Josué é confirmada no verso 2, em que o Senhor repreende Satanás como acusador de Josué (ou Israel) porque Êle escolheu Jerusalém. A descrição de Josué como um ferro tirado do fôgo, refere-se também a Israel.

Depois do cativeiro na Assíria e na Babilónia, Israel estava à beira da extinção, sem um território, um govêrno próprio ou um templo; mas Deus interveio, retirou-os do fôgo que ameaçava consumi-los e devolveu-os à sua terra. No fim dos tempos, durante o reinado do Anticristo, Israel mais uma vez vai ser ameaçado de total destruição, quando Deus intervirá de novo e protegerá um resíduo da nação no deserto, depois do que tal resíduo encontrará o Messias quando Êle descer no Monte das Oliveiras. Êsse resíduo será salvo (12:10) e, como nação espiritualmente renascida, será restaurado na terra de Israel e na cidade de Jerusalém.

Josué de pé em frente ao Anjo do Senhor aponta para Israel de pé em frente ao Senhor para receber as Suas instruções e para O servir. A seu lado estava Satanás para se lhe opôr e para o acusar (3:1; Veja-se também Apocalipse 12:10). Em primeiro lugar Satanás tenta as pessoas a pecar. E, quando as pessoas cedem à tentação pecando activamente, acusa-as perante Deus na esperança que Deus as julgue e rejeite por causa da sua rebelião. No Velho Testamento, a atenção de Satanás fixava-se em Israel como povo escolhido por Deus. Êle sabia que Deus já tinha avisado que, em casos de prolongado pecado e rebelião, entregaria Israel aos inimigos (Veja-se Deuter. 28:15-68). Os planos do diabo visavam a extinção total de Israel, com o fim de evitar que o prometido Messias nascesse como membro desta nação.

Pouco depois do nascimento do Messias, foi posto em movimento um plano maligno para matar Jesus (Mateus 2:13-18). Mas embora Satanás não tenha conseguido êxito para o seu plano, êle continuou em incansáveis esforços para perseguir e matar Jesus, para enganar e instigar o povo judeu a rejeitar Jesus como Messias e a executá-LO e também para enganar e acusar nas nações todos os crentes no Senhor Jesus. À medida que nos aproximamos do fim da era da igreja, Satanás está mais uma vez a opor-se ferozmente ao povo de Israel que está a regressar à sua terra. Se puder ser bem sucedido na aniquilação de todos os judeus (ideia que sugeriu a Hitler na Segunda Guerra Mundial) êle poderia provar que a Bíblia está errada, pois há nela muitas promessas de futura glória sob a égide do Messias para o Israel restaurado.

Satanás dará ao Anticristo o seu poder, o seu trono e grande autoridade, (Apocalipse 13:2) tornando-lhe assim possível levar a cabo de maneira sem precedentes, a sua obra destruidora sôbre a Terra. Depois de enganar os judeus, de os levar a aceitá-lo como Messias e a assinar um acôrdo consigo, (Daniel 9:27; João 5:43), o Anticristo tornar-se-á o maior inimigo dos judeus quando êstes cancelarem tal acôrdo com êle no dia em que êle se declarar Deus no templo reconstruido (2 Tessal. 2:4). Satanás, o Anticristo e o falso profeta também vão enviar espíritos malignos aos reis da Terra para os instigar contra Israel e contra o Messias que está para vir (Apocalipse 16:13-14). Vão transportar os seus exércitos para Israel com o fim de matar os judeus sobreviventes, e de fazer frente a Cristo e ao Seu exército celestial (Apocalipse 19:19).

A oposiçaão de Satanás a Israel, (representada em Zacarias por Josué), tem continuado sem diminuição através dos séculos. Embora a maioria em Israel tenha rejeitado os profetas e mesmo o Messias, e tenha consequentemente sido expulsa do seu território para uma diáspora internacional que dura há quase dois mil anos, Deus nunca rejeitou toda a nação (Levítico 26:44-45). Tem havido sempre um resíduo de crentes entre o povo, que não vergou o joelho a Baal (1 Reis 19:18). Deus castigou severamente Israel por causa dos seus pecados, mas nunca os rejeitará e destruirá a todos. Na visão de Zacarias, Deus decidiu desobrigar Josué, não porque as acusações de Satanás eram falsas, mas devido ao amor gracioso de Deus para com o Seu povo Israel. Satanás foi especìficamente repreendido, porque Deus tinha escolhido Jerusalém e salvaria os seus habitantes (3:2).

Isto não significa que Israel tinha ou tenha de pecar. Deus rejeitou as acusações de Satanás por causa da Sua provisão graciosa para a remissão dos pecados de Israel: “No momento, Josué estava vestido com roupas sujas e estava de pé em frente do Anjo. E então o Anjo respondeu e falou àqueles que estavam à sua frente, dizendo, Tirai-lhe as roupas sujas. E a êle disse vês, Eu retirei de ti a tua iniquidade e vestir-te-ei com ricas vestes” (3:3-4). Israel tem apenas de compreender a sua condição pecadora e arrepender-se. Se voltar ao Senhor, Êle voltará a êles, limpá-los-á de toda a iniquidade, restaurará Jerusalém e residirá no meio dêles (1:3).

O Rei David esteve numa situação semelhante à de Josué, com  vestes espirituais manchadas pela iniquidade. Mas convenceu-se do seu pecado e fez a seguinte oração de arrependimento: “Tem compaixão de mim ó Deus, de acôrdo com a tua bondade; de acôrdo com a multidão das Tuas misericórdias apaga as minhs transgressões. Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado. Porque eu reconheço as minhas transgressões e o meu pecado está sempre diante de mim… Lava-me e serei mais branco que a neve… Esconde a Tua face dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim um coração limpo ó Deus, e renova em mim um espírito firme. Não me afastes da tua presença nem retires de mim o Teu Espírito Santo. Restaura em mim a alegria da tua salvação e sustem-me com o Teu Espírito generoso. E então ensinarei aos transgressores os Teus caminhos e os pecadores a Ti se converterão… Ó Senhor, abre os meus lábios e a minha boca proferirá o Teu louvor. Pois Tu não desejas sacrifício, ou eu to daria… Os sacrifícios de Deus são um espírito quebrantado, um coração quebrantado e contrito – Êstes ó Deus Tu não desprezarás. A Teu belprazer, faz bem a Sião; constrói as muralhas de Jerusalém” (Salmo 51:1-13, 15-18). Mais para o fim êle orou pela limpeza espiritual e reavivamento do povo de Israel (Sião) para terem corações quebrantados e contritos em face dos seus pecados. Também orou pela reconstrução de Jerusalém, o que constituiu referência profética ao tempo que se seguiu à futura destruição da cidade devido aos pecados nacionais dos seus dirigentes e seus seguidores.

A desobrigação de Josué, tomou a forma de o despirem das roupas sujas, que representavam os seus pecados e os da nação. Josué foi depois vestido com roupas festivas, que significavam a pureza associada ao seu perdão, e com um turbante limpo que representava a sua restauração no sacerdócio. Isto simbolizava o perdão e restauração de Israel como a nação sacerdotal para cuja posição o Senhor a havia chamado: “E vós sereis para Mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êxodo 19:6; Veja-se também Isaías 61:6; 62:11-12). Pedro escreveu aos judeus messiânicos: “Vós sois uma geração escolhida, um sacerdócio real, uma nação santa… para que possais proclamar os louvores Daquele que vos chamou da escuridão para a Sua luz maravilhosa” (1Pedro 2:9).

A limpeza e futura perseverança de Josué viria a ter consequências altamente significativas: “Se caminhardes nos Meus caminhos e se obedecerdes ao Meu comando, então também julgareis a Minha casa, e da mesma maneira vos encarrregarei das Minhas côrtes; dar-vos-ei lugares para caminhardes entre êstes que aqui estão” (3:7). Se Josué desempenhasse fielmente os seus  deveres sacerdotais êle teria continuado ao serviço do templo, guardaria o templo da idolatria e de outras formas de poluição religiosa e teria acesso livre ao trono de Deus, como os anjos que ali estavam.

Depois, o Senhor atestou o significado a longo têrmo da visão – que Josué e os sacerdotes seus companheiros eram símbolos de coisas futuras (3:8-10). Na sua limpeza sacerdotal do pecado, êles representavam a futura limpeza da nação de Israel. Esta limpeza futura estava ligada à vinda do Perdoador do Pecado, a Quem foram dados três títulos messiânicos: Servo do Senhor,  Ramo e Pedra.

Como Servo do Senhor, o Messias é Aquele que veio para fazer a vontade do Pai, salvando um mundo perdido e julgando aqueles que se recusam a aceitar a Sua compaixão: “E agora o Senhor, que Me formou desde o ventre para ser o Seu Servo, e para trazer Jacob de volta a Si para Israel Lhe ser ajuntado… certamente Êle diz, É coisa leve que Tu devas ser Meu Servo para levantar as tribos de Jacob e restaurar os guardados de Israel; Eu também vos darei como uma luz para os Gentíos, para que sejais a Minha salvação até aos fins da Terra” (Isaías 49:5-6; veja-se também 42:1; 50:10; 52:13; 53:11).

Como Ramo de David, o Messias é o descendente davídico que será revelado em poder e glória para pôr fim à humilhação em que a linha de David tinha caído: “Nêsse dia o Ramo do Senhor será belo e glorioso; e o fruto da terra será excelente e apetitoso para aqueles de Israel que escaparam” (Isaías 4:2; veja-se também Isaías 11:1). “Olhai, os dias estão a chegar, diz o SENHOR, em que levantarei para David um Ramo de rectidão; um Rei reinará e prosperará, e executará julgamento e rectidão na Terra. Nos Seus dias Judá será salva e Israel residirá em segurança” (Jeremias 23:5-6; veja-se também Jeremias 33:15 e Zacarias 6:12-13).

Como Pedra, Êle seria a pedra de canto da casa de Deus em Israel e entre as nações, pois a vida de todo o verdadeiro crente é construida sôbre a fundação (ou rocha) que é Jesus Cristo (1 Coríntios 3:11; também Mateus 7:24). Embora o Messias tenha sido rejeitado por Israel, Êle é a única verdadeira pedra de canto da casa de Israel, e portanto a sua única esperança para o futuro: “Vindo até Êle como a uma pedra viva, rejeitada pelos homens mas escolhida por Deus e preciosa, vós também, como pedras vivas, estais a ser construidos como casa espiritual, um sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis por Deus através de Jesus Cristo. Portanto está também nas Escrituras, Olhai, eu coloco em Sião uma pedra de canto principal, eleita, preciosa, e aquele que acreditar Nêle de maneira alguma será envergonhado. Portanto, para vós que acreditais Êle é precioso; mas para aqueles que são desobedientes a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra de canto principal, e uma pedra de tropêço e uma rocha de ofensa. Êles tropeçam, desobedecendo à palavra, para o que também estavam marcados” (1 Pedro 2:4-8). O Messias é a pedra de canto ou Salvador dos que acreditam Nêle, e uma rocha de tropêço ou juiz para os que O rejeitam. Na altura da Sua Segunda Vinda, Êle também trará julgamento sôbre os gentíos não crentes (Daniel 2:34-35,44-45;  Joel 3:2; Zacarias 14:12-13; Apocalipse 19:19-21). Os sete olhos na pedra (3:9) representam a infinita sabedoria do Messias. Nêle estão escondidos todos os tesouros de sabedoria e conhecimento (Coloss. 2:3).

Em Israel, um resíduo do povo aceitará Aquele que há-de vir, como a sua pedra de canto preciosa, e será salvo num dia. Deus diz: “Eu removerei a iniquidade dessa terra num dia” (3:9). Isso acontecerá no final do período da tribulação, no dia em que o Messias aparecer no Monte das Oliveiras em Jerusalém (12:10; 13:1; 14:4-5).

A expressão “nêsse dia” (3:10), refere-se a todo o milénio, quando condições de paz e prosperidade vão prevalecer em Israel e no mundo. “Toda a gente se sentará debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira, e ninguém lhes meterá mêdo” (Miquéas 4:4). Isaías diz: “Êles não magoarão ou destruirão em toda a Minha montanha santa, pois a terra estará cheia do conhecimento do Senhor como as águas cobrem os mares” (Isaías 11:9).

Todas estas promessas maravilhosas vão ser herdadas apenas por aqueles que aceitarem o Messias como Salvador pessoal. E êstes são os que vão ser convidados para a ilustre festa de casamento do Cordeiro (Apocalipse 19:7-9). Êles não vestirão roupas sujas de pecado e de rectidão humana, mas, na qualidade de noiva do Cordeiro, “vestir-se-ão de linho fino, limpo e brilhante, pois o linho fino representa as acções rectas dos santos”. As acções rectas dos santos são nada mais que o fruto do Espírito Santo nas vidas  daqueles que foram redimidos pelo Senhor e lavados no sangue do Cordeiro. Abençoados são aqueles que possuem roupas festivas e vão ser chamados à ceia de casamento do Cordeiro!