Zacarias 14: O Regresso do Rei

Walvoord & Zuck (Comentário do Conhecimento Bíblico) dizem: “Êste capítulo retrata o regresso triunfal do Messias de Israel como Rei divino. E assim, retrata também a realização dos salmos escatológicos, como os salmos 93, 96, 97 e 99, que prevêem o reino terrestre universal do Senhor. Êste reino é referido noutras Escrituras como o reino pessoal do Messias no trono de David. Zacarias 14 vai desde o saque inicial de Jerusalém perto do final da futura tribulação, através do julgamento catastrófico dos exércitos gentios no Segundo Advento do Messias e do estabelecimento do Seu reino milenário, a uma descrição da adoração em Jerusalém durante o milénio. O facto que êstes acontecimentos aínda não se verificaram, aponta para um regresso pre-milenial de Cristo, isto é, para o Seu regresso antes do milénio”.

O Rei regressa em poder e  glória (14:1-7, 12-15).

A natureza escatológica dos acontecimentos descritos nêste capítulo, é claramente confirmada pelo facto que êles ocorrerão no próximo “dia do Senhor” (14:1). Jerusalém será o ponto focal dos acontecimentos apocalípticos: A cidade e a terra de Israel vão ser não só o campo de batalha para uma confrontação física entre os reinos de Deus e de Satanás, mas o Monte das Oliveiras na cidade vai ser também o ponto de entrada no mundo para o Rei dos reis, depois de uma ausência física de cêrca de dois mil anos. A Sua vinda constituirá o princípio da elevação de Jerusalém à posição de capital do mundo. Será a ilustre Cidade do Grande Rei. Antes do Messias inaugurar oficialmente a dispensação do revelado reino de Deus na Terra, com a restauração do trono de David, Êle vai desferir um golpe esmagador sôbre os Seus inimigos, que serão guiados pelo Anticristo e pelo  falso profeta, obliterando assim o seu govêrno mundial anti-cristão, que estará no poder nessa altura. Êle também encarcerará Satanás, que ao tempo será o invisível cabeça espiritual do império mundial do falso messias. Deus afirma:

“Eu juntarei todas as nações para a batalha contra Jerusalém; a cidade será tomada, as casas destruídas e as mulheres violentadas. Metade da cidade irá para o cativeiro, mas o resíduo do povo não será expulso da cidade. Então o SENHOR avançará e lutará contra essas nações, como luta no dia da batalha. E nêsse dia os Seus pés estarão sôbre o Monte das Oliveiras, que faz face a Jerusalém a Leste. E o Monte das Oliveiras será partido em dois, de Leste para Oeste abrindo um vale muito grande; metade do monte será movido para o Norte e metade para o Sul. E então fugireis através do vale da Minha montanha, pois o vale da montanha chegará a Azal. Sim, fugireis como fugisteis do terramoto nos dias de Uzziah, rei de Judá. Assim o SENHOR meu Deus virá, e todos os santos Contigo. Acontecerá nêsse dia, que não haverá luz; as luzes diminuirão… mas à noite, acontecerá que será claro… E isto será a praga com que o SENHOR castigará todos quantos lutarem contra Jerusalém: A sua carne derreter-se-á enquanto estão de pé, os seus olhos derreter-se-ão nas suas cavidades e as suas línguas nas suas bocas. E acontecerá nêsse dia, que haverá um grande pânico do SENHOR entre êles. Toda a gente agarrará na mão do seu vizinho e levantará a sua mão contra a mão do seu vizinho; Judá combaterá em Jerusalém. E as riquezas de todas as nações à sua volta serão ajuntadas” (14:2-7, 12-14).

O Senhor diz que juntará todas as nações para combater contra Jerusalém. Êle permitirá simplesmente que a fôrça multinacional de todas as nações marche sôbre Jerusalém, porque elas, instigadas por Satanás, já terão decidido destruir o povo de Israel e o esperado Messias. Outro profeta judeu, João, disse: “E eu vi três espíritos imundos, como rãs, a sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta. Pois êles são espíritos de demónios, fazendo sinais, que vão aos reis da terra e de todo o mundo para os juntar para a batalha do grande dia do Altíssimo… e juntaram-nos no lugar chamado em Hebraico, Armagedon” (Apocalipse 16:13-14,16).

Não é necessário tamanho esfôrço de guerra por todas as nações do mundo para destruir a tão pequena nação de Israel. A altura em que as nações vão mobilizar os seus exércitos para esta guerra, será perto do fim do período da tribulação. O número de judeus terá sido dràsticamente reduzido pela grande perseguição da tribulação, e os restantes terão revogado o seu acôrdo com o  falso messias, e portanto terão sido desarmados e levados de Jerusalém (Veja-se Mateus 24:15-22; Apocalipse 12:6,13-17). Não poderão constituir ameaça militar a quem quer que seja; então portanto, qual o motivo de todos os preparativos para a guerra de Armagedon em Israel, e especìficamente dentro e à volta de Jerusalém?

João indicou a razão para a provocação demónica das nações. Os reis do mundo, que vão formar parte do império mundial do Anticristo, hão-de compreender que o Messias de Israeel virá do céu com um grande exército celestial, para salvar o resíduo de Israel e para governar o mundo por meio dêles da cidade de Jerusalém. As fôrças inimigas cercarão Jerusalém e aí esperarão pelo Messias. João diz: “E eu vi a besta, os reis da Terra e os seus exércitos ajuntados para fazer guerra contra Aquele que se sentava no cavalo e contra o Seu exército” (Apocalipse 19:19). O seu alvo principal será Jesus, o verdadeiro Cristo.

Será um mau dia para a força multinacional, pois serão mortos pela espada que procede da boca Daquele que está sentado no cavalo (Apocalipse 19:21). Êle precisará de pronunciar uma única palavra, que levará à sua súbita destruição. Zacarias diz que a carne das tropas inimigas se derreterá enquanto estão de pé (14:12). “È coisa terrível cair nas mãos do Deus vivo” (Hebreus 10:31). O Anticristo e o falso profeta serão lançados vivos no lago de fôgo, enquanto que Satanás será agrilhoado e lançado no pôço sem fundo (Apocalipse 19:20; 20:1-3).

Durante o acontecimento dramático da Vinda do Messias, quando tremendos abalos de terra se vão registar em todo o mundo e o Monte das Oliveiras se vai partir em dois, vai-se notar uma sincera e voluntária reconciliação entre o resíduo de Israel e o seu em tempos rejeitado Messias, Jesus. Os judeus que fugiram para o deserto no meio do período da tribulação, regressarão ao Monte das Oliveiras para se encontrarem com o verdadeiro Messias. E vão fazer isso apesar do grande perigo da presença de massivas forças anti-cristãs dentro e à volta de Jerusalém, bem assim como noutras partes do Médio Oriente. De acôrdo com as profecias em Daniel 12, êles vão saber que terão de passar-se 3 anos e meio desde o dia em que o falso messias se declarar Deus no templo reconstruido de Jerusalém, até ao dia do aparecimento do verdadeiro Messias (Daniel 12:11).

Apesar da ansiedade por causa da grande guerra de Armagedon em curso, êles vão aproximar-se de Jerusalém. Haverá uma altura em que se vão sentir desesperados, temendo perder a esperança e serem todos mortos, (Ezequiel 37:11). Mas nêsse momento crítico, chegará o Messias e quando os Seus pés tocarem o Monte das Oliveiras, o monte partir-se-á em dois e a escuridão dos julgamentos de Deus engolfará as forças inimigas. Será de novo como no dia em que o Messias foi crucificado e carregou por nós com os julgamentos de Deus contra o pecado. Escureceu ao meio do dia, mas às três da  tarde, quando Jesus ofereceu a Sua vida, de novo se fez luz (Mateus 27:45).

No dia da Sua Segunda Vinda, haverá escuridão ao meio do dia, quando os julgamentos de Deus forem derramados sôbre os Seus inimigos. Nessa altura de grande confusão entre os inimigos, os judeus fugitivos encontrarão refúgio no vale do dividido Monte das Oliveiras. Alí, aos pés do Messias, estarão seguros. Zacarias diz: “Nêsse dia não haverá luz… mas ao cair da noite haverá luz” (14:6-7). Quando a luz voltar ao entardecer, os judeus olharão para Êle, que veio no momento crítico para os salvar quando estavam rodeados pelas forças inimigas e se julgavam perdidos. Êles não serão salvos apenas fìsicamente dos inimigos, mas obterão também a salvação espiritual do Messias nos seus corações.

Instituição do reino milenário do Messias (14:8-11,16-21)

“E será nêsse dia que águas vivas correrão de Jerusalém, metade em direcção ao mar oriental e metade em direcção ao mar ocidental; e acontecerá tanto no verão como no inverno. E o SENHOR será Rei sôbre toda a Terra… Jerusalém será levantada e habitada no seu lugar… O povo viverá nela;  não mais haverá nela completa destruição, e Jerusalém será habitada em segurança” (14:8-11).

Toda a paisagem em Israel será alterada, provàvelmente devido aos grandes abalos de terra (Ezequiel 38:19-20; Apocalipse 16:18-19). No milénio, Jerusalém será levantada (14:10). A montanha da casa do Senhor será estabelecida no tôpo das montanhas (Isaías 2:2). Águas vivas correrão de Jerusalém para o mar oriental (o Mar Morto) e para o mar ocidental (o Mediterrâneo). E será assim durante o verão e o inverno (14:8), indicando portanto que o dia do Senhor vai estender-se por muitos anos, incluindo todo o reino milenário do Messias.

O Messias será Rei sôbre toda a Terra (14:9). Satanás estará encarcerado no pôço sem fundo, que será selado de maneira a que não possa enganar mais as nações até os mil anos terem passado (Apoclipse 20:3). Em resultado disso, as nações viverão em paz, transformarão as espadas em charruas e porão fim a todo o treino militar (Isaías 2:2-4; Jeremias 3:17). E irão com regularidade a Jerusalém para orar diante ao Senhor (Zacarias 8:20-22).

Uma dessas ocasiões será para a festa anual dos tabernáculos: “E acontecerá que todas as pessoas que ficaram de todas as nações que foram contra Jerusalém, irão todos os anos para adorar o Rei, o SENHOR dos exércitos e para a Festa dos Tabernáculos” (14:16). Embora o diabo esteja preso e não possa enganar as pessoas, as pessoas continuarão a nascer com uma natureza carnal caída, e necessitarão de nascer de novo para poderem participar da natureza divina. Devido à sua natureza humana, podem muitas vezes negligenciar os seus deveres e ter de ser disciplinadas: “Qualquer das famílias da Terra que não venha a Jerusalém a adorar o Rei, o SENHOR dos exércitos, não verá chuva sôbre si” (14-17).

A marca do milénio será “Santidade para com o SENHOR” (14:20-21). A santidade vai caracterizar a vida pública e a palavra será até escrita nas campaínhas dos cavalos. A santidade será a natureza de todas as expressões religiosas, da mesma maneira que os vasos de cozinha da casa do Senhor, o templo milenário (Ezequiel 40:43), serão como os vasos de sacrifício diante do altar. Esta regra será aplicada também às casas particulares, pois todos os utensílios de cozinha serão santificados para o Senhor. Não mais haverá uma divisão entre o secular e o sagrado, pois as pessoas serão santas em toda a sua conduta (1 Pedro 1:15). De acôrdo com a regra de absoluta santidade, não haverá qualquer Cananeu na casa do Senhor (14:22). Os Cananeus eram idólatras e as suas práticas religiosas eram simbólicas de tudo quanto era cerimonialmente menos limpo e não santo (Êxodo 34:11-15). No templo milenário não se verá semelhante ofensa, pois o Senhor removerá do país toda a idolatria (13:2).

O livro profético de Zacarias começou com um chamamento ao arrependimento (1:2-6) e termina com a afirmação que tudo será santo para o Senhor (14:20-21). Porque Êle é o Senhor Todo Poderoso e o Santo de Israel, Êle estabelecerá a santidde através do glorioso milénio. Todas as pessoas que Lhe pertencem têm de ser completamente santificadas antes de poderem comparecer perante Êle. “Segui a paz com todos os homens, e a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14).

O Messias é Senhor

A revelação mais profunda no livro de Zacarias é que o Messias de Israel é chamado SENHOR – o eterno e auto-existente EU SOU. Na Sua pre-incarnada aparição, Êle é descrito como O Anjo do Senhor; na Sua primeira vinda para Israel como o Rei e Pastor rejeitado que veio como Pessoa humilde para ser lanceado (crucificado) pelos pecados de todos os povos; mas na cena profética da Sua Segunda Vinda Êle é totalmente revelado como SENHOR Deus (Yahweh Elohim): “Assim, o SENHOR meu Deus virá e todos os santos Contigo” (14:5). Êle é “o Rei, o SENHOR dos exércitos” que será adorado por Israel e pelas nações em Jerusalém durante o milénio. (14:16). Zacarias também diz: “O SENHOR será Rei sôbre toda a Terra. Nêsse dia dir-se-á – o SENHOR é um e o Seu Nome é um” (14:9).

O conceito “um” que é também usado em Deuteronómio 6:4 para descrever a Pessoa do Senhor (Yahweh) e nosso Deus (Elohim) é echad em hebraico, e  refere-se a uma unidade composta (três Pessoas que, juntas, são uma), em oposição a uma unidade absoluta. O Deus Triune pode de facto dizer: “Façamos  o homem à Nossa imagem” e depois, “…macho e fêmea Êle os criou” (Génesis 1:26-27). Todas as três Pessoas na Divindade podem ser chamadas  Senhor (Yahweh) e Deus (Elohim). O Messias, o Santo de Israel, é claramente o Senhor Deus que criou o mundo. João identifica o pre-incarnado Cristo como a Palavra (Logos),  que é o Deus-Criador: “No princípio era a Palavra, a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus… Todas as coiss foram feitas através Dêle, e sem Êle nada foi feito que foi feito. Nêle havia vida, e a vida era a luz dos homens… Êle esteve no mundo, e o mundo foi feito através Dêle e o mundo não O conheceu. Êle veio para os Seus (Israel), e os Seus não O receberam. Mas, a tantos quantos O receberam, a êles deu Êle o direito de se tornarem filhos de Deus, mesmo àqueles que acreditem no Seu nome… e a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós, e nós vimos a Sua glória, a glória como unigénito do Pai, cheio de graça e verdade” (João 1:1-4, 10-14).

Êle é não só Jesus de Nazaré que teve princípio em Belém, onde nasceu como Filho do Homem e Filho de Deus – mas sim também o Eterno e auto-existente Deus que estava lá antes da criação: “Êle é a imagem do Deus invisível…Pois por Êle todas as coisas foram criadas que estão no céu e que estão na Terra… Êle é antes de todas as coisas e Nêle todas as coisas existem… Pois Nêle reside corpòriamente toda a plenitude da Divindade” (Colossenses 1:15-17; 2:9). 

Quando o Messias veio a Israel pela primeira vez, poucas pessoas compreenderam quem Êle realmente era. Os seus discípulos exclamaram  maravilhados: “Quem poderá ser êste, que até o vento e o mar Lhe obedecem!” (Marcos 4:41). Êles não compreenderam que Êle fez o vendo e o mar. Aos judeus agnósticos Êle disse: “Antes de Abraão ser EU SOU” (João 8:58). E também “Eu e Meu Pai somos um” (João 10:30). Quando Êle disse isto, os judeus pegaram em pedras para O apedrejar. E quando Êle lhes perguntou porque o faziam, reponderam: “por blasfêmea e porque tu, sendo um homem te fazes Deus” (João 10:31-33). Os judeus corriam  perigo pelas suas vidas por não aceitarem o Messias como  Senhor e Deus. E o Messias claramente os avisou da sua ruina espiritual se não O adorassem como Senhor – o eterno EU SOU: “Morrereis nos vossos pecados, porque  se não acreditardes que EU SOU, morrereis nos vossos pecados” (João 8:24; versão Rei Tiago moderna). Êle é “o verdadeiro Deus e vida eterna” (1 João 5:20).

Antes de Israel ser maltratado e perseguido pelo falso messias, com quem vai assinar erradamente um acôrdo, apenas um resíduo muito pequeno de judeus compreenderá totalmente quem o Messias realmente é. Frances Havergal aconselha todos os judeus e gentios não-salvos: “Porque é que O não quereis? Não é Êle de facto bom? Não morreu Êle para vos salvar? Não é Êle tudo quanto precisais?” O Senhor Jesus prometeu solenemente a salvação a todos que O acreditassem: “Com toda a certeza vos digo: Aquele que acredita em Mim tem a vida eterna” (João 6:47).

É àcêrca dêste grande Salvador que Zacarias falou ao seu povo. Mas, apesar dessas mensagens Israel rejeitou-O quando Êle veio pela primeira vez. Pouco antes da Sua ascenção no Monte das Oliveiras, o Messias comandou aos Seus discípulos que proclamassem o Seu amor e graça salvadora por todas as nações da Terra (Mateus 28:19). Quando Êle vier de novo, todo o Israel será salvo. E então, o Messias e os Seus santos regerão o mundo em rectidão. Todas as nações adorarão o Messias e honrarão o Seu povo, Israel. Elas dirão aos judeus messiânicos: “Deixai que vamos convosco, pois ouvimos dizer que Deus está convosco” (Zacarias 8:23).