Zacarias 1: O Senhor Regressa a Jerusalém com Compaixão

O livro de Zacarias trata da restauração espiritual do povo de Israel e da sua cidade capital,  Jerusalém – não só no tempo de Zacarias mas mais especìficamente no tempo do fim, depois da vinda do Messias. Descreve também os julgamentos de Deus sôbre os Seus inimigos, e  torna-se claro que êles são também os inimigos de Israel.

“No oitavo mês do segundo ano de Dario, a palavra do SENHOR falou a Zacarias…” (1:1). Êste verso revela a ocasião, a fonte divina e o agente humano que agiu no chamamento inicial ao arrependimento. O dia específico do oitavo mês, que começou em 27 de Outubro de 520 A.C., é significativo, pois o profeta judaico datou a sua profecia de acôrdo com o reino de um monarca gentio. Isto constituiu lembrança a todos os ouvintes de Zacarias, que o tempo dos gentios estava em curso, e que nenhum descendente de David estava no trono em Jerusalém. Aínda mais, Zacarias, ao escutar a palavra de Deus, foi apenas a pessoa que  pronunciou esta profecia e não a sua fonte (Veja-se 2 Pedro 1:21). Como profeta, êle era simplesmente um servo e um enviado, chamado e ungido para levar ao povo a palavra de Deus.

A volta ao Senhor! (1:2-6)

Foi dirigido a Israel um aviso solene para não continuar na desobediência dos antepassados, pois estavam a atiçar a ira do Senhor, e que deviam antes arrepender-se e fazer uso da Sua oferta da graça divina: “O SENHOR zangou-se muito com os vossos antepassados… Assim fala o SENHOR dos exércitos: voltai para Mim e eu voltarei para vós… não sejais como os vossos pais” (1:2-4). Enquanto que os pecados dos antepassados tinham dado origem à desolação do templo, à destruição de Jerusalém e ao cativeiro da nação na Bbilónia, os seus próprios pecados tinham dado em resultado um atrazo na reconstrução da cidade e do templo e o êxito do inimigo em os atacar e desencorajar. Se não se arrependessem sinceramente, perderiam a presença e as bênçãos do Senhor, e em vez disso acenderiam a Sua ira sôbre si. Êle abandonaria então Israel e entregá-lo-ia aos inimigos.

A gravidade da situação foi acentuada em duas perguntas chamando a atenção para a brevidade da vida humana e para a necessidade de uma resposta pontual ao comando de Deus para se arrependerem. “Os vossos pais, onde estão êles?  (1:5). Morreram à espada, à fome, às pestilências e por causas naturais, como predicto por profetas anteriores. E os profetas, vivem êles para sempre?” (1:5). A resposta implícita é “não”. Os seus ministérios foram também de curta duração, e assim, a oportunidade para o arrependimento que êles ofereceram não devia ser ignorada.

A condição para receber as bênçãos reveladas pelos profetas era uma entrega ao Senhor genuina e do coração. Êles não deviam ser desobedientes como tinham sido os da geração anterior, que foram para o exílio como resultado certo do julgamento do Senhor.

A necessidade do arrependimento não era apenas a chave para receber a remisão dos pecados e as bênçãos de Deus  nas vidas dos israelitas do Velho Testamento, mas também se aplica igualmente a nós no Novo Testamento. Paulo disse: “ Deus… comanda todos os homens em toda a parte a  arrependerem-se” (Actos 17:30). Através do arrependimento, um pecador perdido volta-se ao Senhor pela fé, para obter perdão para os seus pecados e para ser espiritualmente renovado, nascendo de novo e recebendo o poder do Espírito Santo para servir o Senhor.

Deus decretou a pena de morte para todos os pecadores: “A alma que pecar morrerá” (Ezequiel 18:4; veja também Rom. 6:23). Por êste motivo não há remissão para o pecado sem o derramamento de sangue (Hebreus 9:22; veja também Levítico 17:11). O Messias, Jesus Cristo, é o Cordeiro de Deus que derramou o Seu sangue e morreu na cruz para remissão dos nossos pecados (João 1:29; Rom. 3:25). Antes da vinda do Messias, os israelitas tinham de sacrificar animais pelos seus pecados, o que, tìpicamente, apontava para o futuro sacrifício do Messias. E, uma vez que a lei era apenas uma sombra de boas coisas vindouras, os sacrifícios do Velho Testamento tinham de ser repetidos vez após vez até à chegda do scrifício uma vez para sempre, do perfeito Cordeiro de Deus (Hebreus 10:1-18).

Ao abrigo do Velho Acôrdo, era no entanto imperativa a prática repetida dos sacrifícios animais, pois os pecados do povo eram apenas provisòriamente perdoados até vir o sacrifício do Messias. A lei e os seus sacrifícios foram todos realizados no Messias (Mateus 5:17).  Paulo disse: “Porque Cristo constitui o fim da lei da rectidão para todo aquele que acredita” (Romanos 10:4). A continuação dos sacrifícios do Velho Testamento no tribunal do templo era obrigatória, pois exigia arrependimento, realçava o princípio que não há remisão de pecados sem o derramamento de sangue e mantinha portanto viva a esperança messiânica do povo. Uma vez que era impossível o sangue de novilhos e de cabras remover os pecados, (Hebreus 10:4), os  fiéis de Israel estavam à espera da salvação que apenas o Cordeiro de Deus (o Messias) lhes podia trazer. Isaías disse: “Êle foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquiddes; o castigo que nos traz a paz estava sôbre Êle e pelas suas feridas somos curados… O SENHOR fez cair sôbre Êle a iniquidade de todos nós” (Isaías 53:5-6).

Antes da vinda do Messias, o povo de Israel  tinha de manter e cumprir as práticas obscuras da lei. Mas ao fazê-lo, abraçava ao mesmo tempo as promessas do vindouro Messias e as bênçãos futuras reservadas para todos os crentes. Nas idades vindouras êles, como nós, também se vão regozijar pelo Messias (Zacarias 12:10), pelo Seu sacrifício pelos pecados do mundo (Apocalipse 5:9), pela Sua vitória sôbre as fôrças da escuridão (Hebreus 2:14-15) e pelas Suas bênçãos eternas para todos os crentes (Hebreus 11:13,39-40).

No Velho Testamento, a negligência no serviço do templo, era sempre uma indicação do retrocesso espiritual de Israel, pois deixavam de escutar a lei que os convencia do pecado, e consequentemente deixavam também de confessar os pecados que sempre acompanhavam os sacifícios e as orações para bênçãos. Esqueciam-se do Senhor e envolviam-se no pecado. A volta a Deus implicava sempre a restauração do serviço do templo, os sacrifícios diários, a leitura da lei e dos profetas e uma nova dedicação a honrar e obedecer ao Santo de Israel, que é poderoso para salvar. Foi por esta razão que a reconstrução do templo e a restauração do serviço do templo eram tão importantes para os judeus regressados do exílio babilónico. Zacarias encorajou-os fortemente a dedicarem-se a tal tarefa. Parte da sua motivação foi a promessa Daquele Que Estava Para Vir, que cumpriria todos os sacrifícios animais, pois Êle Próprio seria trespassado pelas iniquidades do povo (12:10). Êle será o Sumo Sacerdote e Rei de Jerusalém e de todo o mundo (14:9). 

O cavaleiro do cavalo vermelho entre as murtas (1:7-17)

Numa única noite, Zacarias teve uma série de oito visões que foram interpretadas por um anjo e que descrevem o futuro de Israel. Deve-se notar, que estas visões foram recebidas por Zacarias quando se encontrava perfeitamente acordado – não foram sonhos. Êle até ficou exausto por causa das visões e adormeceu, apenas para ser acordado pelo anjo (4:1). Nas visões, as bênçãos de Deus para Israel atravessam os séculos desde a reconstrução do templo nos dias de Zacarias, até à restauração do reino de Israel sob o Messias.

O cavaleiro do cavalo vermelho entre as murtas é identificado como o Anjo do Senhor – isto é, uma aparição do pre-incarnado Messias. A côr com que Êle está associado faz alusão não só ao Seu sangue, como também ao julgamento divino e a guerra (Veja-se Isaías 63:1-6). Êle é seguido por um grupo de cavaleiros angélicos montando cavalos vermelhos, pintalgados (KJV) e brancos. O vermelho simboliza guerra, derramamento de sangue e julgamento. O cavalo pintalgado (vermelho com pintas brancas) revela uma missão de julgamento e compaixão. O branco significa limpeza e vitória. As murtas numa baixa (área baixa ou ravina), simbolizam o povo de Israel na sua humilhação, sofrimento e estado desolado. E isto é típico da sua situação através do longo período dos tempos dos gentios.

Os cavaleiros angélicos foram enviados a patrulhar toda a terra, e para relatarem o que encontraram. Encontraram a terra habitada em paz e descanso de guerras. Isto não constituia boas novas, pois Zacacarias sabia que a restauração do reino de Israel seria precedida de guerras em larga escala no mundo, e da destruição dos reinos terrenos (Zacarias 14:2, conforme confirmado também por Ageu (Ageu 2:21-22). Na altura das profecias de Zacarias não havia sinal algum da proximidade da restauração e salvação final de Jerusalém. Esta situação explica a pergunta no verso 12: “Ó SENHOR dos exércitos, por quanto tempo continuas a não ter compaixão por Jerusalém…?”

Deve ter sido um confôrto para Zacarias, que o Próprio Senhor estava na baixa no meio das murtas. Êle aínda se encontra no meio do Seu povo durante o seu sofrimento e rejeição pelos gentios, e não o abandonará, ao contrário, vai-o restuarar por completo de acôrdo com as Suas promessas. Nos versos 13 a 17 falaram-se palavras de confôrto a Jerusalém. O Senhor é zeloso de Jerusalém (1:14); escolheu-os (3:2), e não permitirá que alguém os arrebate da Sua mão. O Senhor proferiu as seguintes palavras confortadoras:

“Vou regressar a Jerusalém com compaixão”. Isto foi verdade no tempo de Zacarias, quando o Senhor ajudou Israel a restaurar Jerusalém e o templo, depois da Sua glória se ter afastado anteriormente do templo e da cidade (Ezequiel 10:18-19; 11:22-23). No entanto, esta promessa refere-se também à altura em que o Messias vai regressar a Jerusalém permanentemente, para reinar a partir da cidade durante o milénio (Isaías 2:1-4; Jeremias 3:17). A santa presença do Senhor encherá o templo e a cidade (Ezequiel 43:5; 48:35).

“A minha casa será construida nela”. Isto refere-se à reconstrução do templo no tempo de Zacarias e também à construção do templo final durante o milénio (Ezequiel 40–44).

“A linha de um capataz será estendida sôbre Jerusalém”. Isto diz respeito à construção e expansão de Jerusalém, particularmente durante o milénio, quando a cidade será a capital do mundo, onde o Senhor será adorado por todas as nações (Zacarias 8:20-22; Veja-se Jeremias 31:38-40; Actos 15:16-17).

“O Senhor confortará de novo Sião, e escolherá de novo Jerusalém”. Quando o Messias voltar, Êle  cumprirá as Suas promessas a Israel e a Jerusalém (Isaías 12:1; 62:6-7; Romanos 11:26-29). Durante o tempo de Zacarias os judeus eram confortados apenas de um modo limitado. É evidente, que a bênção completa e confôrto do Senhor serão derramados sôbre êles depois de êles terem firmado um Novo Acôrdo com Deus através do Messias (Veja-se Jeremias 31: 31-37; Hebreus 8:10-12; Ezequiel 36:22-38).

As quatro trombetas e os quatro artífices (1:18-21)

A segunda visão mostra o julgamento de Deus sôbre as nações que afligem Israel. As trombetas são geralmente símbolo de poder e usualmente  referem-se a reis gentios. (Daniel 7:24; Apocalipse 17:12). Os reinos em questão eram hostís a Israel, e daí a afirmação “Êstes são as trombetas que dispersaram Judá” (1:21). Os quatro artífices são poderes usados por Deus para destruir as nações (representados aqui como trombetas) que combatem contra Israel. As quatro trombetas podem referir-se a todos os inimigos de Israel de todos os cantos da terra, ou, mais provávelmente, às quatro bestas descritas em Daniel 7, que desempenham o mesmo papel atribuido às quatro trombetas.

Estas quatro bestas representam os Impérios Babilónico, Medo-persa, Grego e Romano, que combateram, oprimiram e dispersaram Israel durante os tempos dos gentios. Os que rejeitam esta interpretação dizem usualmente que os dois ultimos reinos não eram conhecidos no tempo de Zacarias, visto que a gente dêsse tempo tinha apenas conhecimento dos Impérios Babilónico e Medo-persa – os restantes dois pertenciam aínda ao futuro. No entanto, nós sabemos que as visões nocturnas não se limitaram ao tempo de Zacarias, e que elas se referiam a todo o período dos Tempos dos Gentios.

Os quatro artífices que apareceram depois das trombetas são poderes sucessivos utilizados por Deus para destruir as potências que agem contra Israel. E sabemos que os medo-persas destruiram os babilónios. Depois de terem sido artífices usados por Deus, transformaram-se êles mesmos em trombetas, lutando contra o reino e povo de Deus. Da mesma maneira o Império Grego foi usado para derrotar os medo-persas, enquanto que o Império Romano acabou com o Império Grego. O Império Romano dividiu-se em duas partes (Oriental e Ocidental) e não foi substituido  por outro império mundial. No final dos tempos, o Império Romano restaurado, que representará também o renascer de todas as antigas potências gentias, será governado pelo Anticristo e será destruido pelo Messias quando Êste regressar para restaurar o Reino de Israel (Zacarias 14:2, 12.13; Apocalipse 19:19-21).

É-nos também dada indicação da maneira severa como estas nações perseguiram os judeus. Elas “dispersaram Judá de maneira que ninguém podia levantar a cabeça” (1:21). O levantar da cabeça de uma pessoa é indicação de uma medida de fôrça e de coragem nessa pessoa. Os judeus dispersos não tinham fôrça alguma durante os tempos dos gentios, e eram completamente dominados por várias potências gentias.

O facto de Israel estar de volta à sua terra depois de tantos anos, controlando Jerusalém e podendo também defender-se contra os inimigos, é sinal seguro de que os tempos dos gentios estão a chegar ao fim, e de que a volta do Messias está à porta. Contudo, uma vez que Israel aínda tem de se arrepender e de se reconciliar com Deus através do Messias, os seus problemas estão longe de acabar. O pior aínda está para vir no período da tribulação sob o falso messias.

Quando o Messias foi rejeitado por Israel a quando da Sua primeira vinda, Êle disse-lhes claramente que se encontravam num caminho que acabaria por os levar a assinar um acôrdo com o falso messias (João 5:43). Quando êste levantar uma estátua de si memo no templo restaurado de Jerusalém, o falso messias (Anticristo) vai tentar aniquilar todos os judeus que tiverem quebrado o acôrdo assinado consigo. Jesus disse: “Portanto, quando virdes a abominação da desolação referida pelo profeta Daniel, de pé no lugar santo…então que aqueles que estiverem na Judeia fujam para as montanhas…porque então haverá  grande tribulação, tal como nunca antes houve desde o princípio do mundo até agora, não, nem nunca mais haverá. E se êsses dias não forem encurtados, nenhuma carne se salvará; mas por causa dos eleitos (Israel) êsses dias serão encurtados” (Mateus 24:15,16,21,22).

Zacarias descreve esta hostilidade sem paralelo do fim dos tempos contra Israel (12:2-3), e também o facto que dois têrços de todos os judeus perecerão nas grandes perseguições do período da tribulação (13:8). No entanto, Deus não só usará os gentios para afligir e julgar Israel por causa da sua contínua descrença – mas também julgará as nações por estarem sempre cheias de ódio contra Israel e usarem todas as oportunidades para perseguir e dispersar a nação (Joel 3:2; Veja-se também Génesis 12:3). 

Quando é que Israel e as nações vão dar ouvidos aos graves e repetidos chamamentos ao arrependimento? Deus apenas salva, conforta e abençoa aqueles que de todo o coração se voltam de verdade para Si. Os que se recusam a fazê-lo estão a viver em rebelião contra Si, e consequentemente continuam a ser o objecto da Sua ira: “Como escaparemos se desprezarmos tão grande salvação?” (Hebreus 2:3).  As pessoas não salvas devem compreender que é por certo algo de temer, cair nas mãos do Deus Vivo” (Hebreus 10:31). Êle é ou o nosso Salvador ou o nosso Juiz – a escolha é nossa.  “Afastai-vos agora dos vossos maus caminhos e más acções. Mas êles nem me deram ouvidos nem Me obedeceram, diz o SENHOR” (1:4).