Zacarias: O Maior Profeta Messiânico de Israel

Pelo Prof. Johan Malan

Traduzido para português por Julio de Andrade

Introdução a Zacarias

“Zacarias” significa “O Senhor lembra-se”. O pai de Zacarias era o sacerdote Berequias. A sua família contava-se entre os quase 50.000 judeus exilados que regressaram da Babilónia a Jerusalém em 536 A.C. Zacarias foi contemporâneo do profeta Ageu, do governador Zerubabel e do sumo sacerdote Josué (Esdras 5:1-2; Zacarias 3:1; 4:6; 6:11). Êle era aínda jóvem quando começou o seu ministério profético (See 2:4).

Com a sua mensagem, Zacarias procurava:

·       Encorajar um reavivamento espiritual em Israel (1:2-3) e avisar aqueles que não se arrependiam, como a maior parte dos seus antecessores (1:4).

·       Inspirar o povo no sentido de perseverar no serviço do Senhor e de completar a reconstrução do templo (1:16; 4:9).

·       Confortar os judeus que regressavam, que nessa altura estavam a passar por grandes  problemas e aflições (1:12-14).

·       Fazer-lhes compreender nos seus corações, o facto que apenas podiam compreender os caminhos do Senhor e servi-LO verdadeiramente através do Espírito Santo (4:6; 7:12; 12:10).

·       Revelar aos judeus a vinda do Messias como pessoa humilde que procuraria a sua salvação, seria rejeitado e trespassado por êles, mas seria mais tarde aceite por toda a nação (9:9;12:10; 13:1,9).

·       Descrever a vinda triunfal do Messias para Jerusalém, revelado em poder e glória com todos os Seus santos para ser Rei sôbre toda a Terra (14:4-5, 9).

·       Confirmar aos judeus os graves julgamentos que cairão sôbre os inimigos de Jerusalém, que são também inimigos de Deus e do Seu Reino (14:2-3, 12-13).

·       Frisar aspectos-chave do Israel espiritualmente restaurado, que será honrado por todas as nações durante o milénio quando os dirigentes de tais nações visitarem Jerusalém à procura do Senhor dos Exércitos e para tomarem parte na Festa dos Tabernáculos (8:20-23; 14:16).

George L. Robinson numa afirmação citada com frequência, chamou ao livro de Zacarias “o mais messiânico, mais verdadeiramente apocalíptico e escatológico de todos os escritos do Velho Testamento”. (International Standard Bible Encyclopaedia). O relêvo messiânico de Zacarias, justifica a sua frequente menção por escritores do Novo Testmento.

Panorâmica histórica

A queda  dos reinos de Judá e de Israel, bem como a sua restauração do cativeiro, formam a panorâmica histórica dêste livro. Os assírios puzeram fim ao reino nortenho de Israel em 722 A.C., enquanto que Nabucodonozor destruiu o reino da Judeia no Sul, em 586 A.C.. Muitos dos habitantes de Jerusalém foram deportados para a Babilónia por um período de setenta anos (Jer. 25:11; 29:10). Durante êste exílio, o profeta Daniel recebeu a revelação que reinos gentios dominariam Israel até ao estabelecimento em Jerusalém do reino do Messias (Daniel 2 & 7). Êste longo período é chamado “os tempos dos gentios” (Lucas 21:24).

É da maior importância compreender, que as profecias de Zacarias eram  dirigidas à nação israelita unida, composta de todas as 12 tribos – e que já se não tratava de uma nação dividida. Infelizmente, há pessoas que teorizam que as chamadas dez tribos perdidas de Israel emigraram para a Europa, tornando-se os antepassados fundadores das nações ocidentais. Tais pessoas alegam que apenas judeus das tribos de Judá e de Benjamim regressaram do exílio babilónico para Jerusalém. No entanto, os grupos que regressaram à sua terra eram  representantes de todas as 12 tribos. O que segue são os factos mais importantes que substanciam esta afirmação:

Nunca existiu uma divisão rígida entre as duas e as dez tribos de Israel. Durante os 250 anos da sua existência, o reino nortenho de Israel, das dez Tribos, foi regido por 19 reis apóstatas. Entre estes não havia um só temente a Deus. Êles eram tão incompetentes e máus, que muitos dos seus subditos emigraram para o Sul para o reino de Judá (2 Crónicas 11:14,17).

Quando quer que um rei temente a Deus estava no poder em Jerusalém, a emigração do Norte aumentava com grande vigôr. A dedicação e reformas positivas do Rei Asa tiveram o mesmo efeito: “Então êle juntou toda a Judá e Benjamim e os que viviam com êles de Efraim, Manassé e Simeão, pois êles vinham até si de Israel em grande número, ao verem que o SENHOR seu Deus estava com êle”(2 Crónicas 15:9).

Outra razão para o fortalecimento de Judá e enfraquecimento de Israel, foi a guerra. O pai do rei Asa, Abija, combateu com Israel e matou 500.000 homens (2 Crónicas 13:17-18). Em 20 anos os exércitos de Judá tinham aumentado de 180.000 (1 Reis 12:21) para 580.000 (2 Crónicas 14:8). Depois de 40 anos tinham 1.160.000 homens (2 Crón. 17:14-18). Durante o mesmo período de tempo o exército de Israel  tinha diminuido para apenas 7.000 homens (1 Reis 20:15). Êstes números não se podem explicar sem se levarem em conta as emigrações em larga escala de Israel para Judá.

Muitas pessoas assumem com frequência, erradamente, que em termos de 2 Reis 17:18, Israel inteiro foi levado cativo para a Assíria  em 721 a.c. A verdade dos factos é que apenas os dirigentes e famílias de proeminência foram exilados, tendo a maioria da gente pobre ficado para tràs. O mesmo se repetiu durante o cativeiro do reino do Sul na Babilónia 134 anos mais tarde (2 Reis 24:14-16; 25:11-12). De acôrdo com a Enciclopédia Bíblica, Sargon II, sucessor de Shalmaneser, indicou nas suas crónicas ter levado cativos de Israel para a Assíria 27.290 pessoas (Veja-se 2 Reis 17:1-6).

A alegação infundada pelo Movimento Britânico-Israelita e vários outros grupos com êle relacionados de muitos países, isto é, que o número limitado de cativos de Israel se espalhou pela Europa e fundou as nações brancas do Ocidente, deve também ser considerada. É facto bem estabelecido que nunca se deu tal emigração. Não há quaisquer tribos perdidas de Israel a que se possa atribuir a origem de todas as nações brancas da Europa, uma vez que são descendentes de Jafeth (Génesis 10:2-5) – elas não são Semitas!

2 Reis 17:6 menciona as cidades assírias para onde foram levados os cativos de Israel. Em 612 A.C., o Império Assírio foi ocupado pelo Império Babilónico e foi incorporado nêste último. O profeta Ezequiel foi levado cativo por Nabucodonozor para a Babilónia em  597 A.C. Em Tel Abib, perto do rio Chebar, êle encontrou-se com os descendentes dos israelitas que tinham sido levados cativos mais de 120 anos antes. Deus falou com êle sôbre os israelitas que continuavam em rebelião (Ezequiel 2:3; 3:14-17).

É claro portanto, que um grupo das dez tribos estava na Assíria (mais tarde incorporada na Babilónia); outro grupo delas manteve-se em Samaria, enquanto que um vasto grupo já tinha emigrado para Judá. Desde o cativeiro de Judá na Bbilónia, as duas casas de Israel (as dez tribos e as duas tribos) tinham um destino comum. Juntaram-se mais uma vez como uma nação com dôze tribos e daí em diante eram mencionadas em conjunto. Um ano depois de Ezequiel visitar os cativos de Israel, êle clamou a Deus dizendo: “Ah Senhor Deus! Irás destruir todo o resíduo de Israel lançando a Tua fúria sôbre Jerusalém? E então Êle disse-me: ‘A iniquidade das casas de Israel e de Judá é extremamente grande, a terra está coberta de sangue, e a cidade de perversidade’ (Ezequiel 9:8-9).

Não há qualquer evidência bíblica, ou extra-bíblica digna de crédito, que faça qualquer menção de uma alegada emigração de Israel para a Europa. Mesmo 160 anos depois do cativeiro de Israel na Assíria escreveu-se: "Porque os filhos e Israel caminharam em todos os pecados que Jeroboam cometeu; êles não se afastaram dêles até que o Senhor retirou Israel da Sua vista, como tinha dito pela bôca de todos os Seus servos os profetas. E assim Israel foi levado da sua própria terra para a Assíria, como acontece até êste dia” (2 Reis 17:22-23).

O facto que Israel e Judá estiveram ambos cativos e oprimidos na região assírio-babilónica é também confirmado por Jeremias: “Assim fala o SENHOR dos Exércitos: Os filhos de Israel foram oprimidos juntamente com os filhos de Judá; todos os que os levaram cativos os seguraram bem; recusaram-se a deixá-los partir. O seu Redentor é forte; O SENHOR  dos Exércitos é o Seu nome” (Jeremias 50:33-34).

Desta escritura torna-se claro que os assírios e os babilónios apanharam os cativos e não os deixaram partir. Portanto não podia ter havido uma emigração em larga escala para a Europa durante este período. Foi apenas depois da conquista da Babilónia em 539A.C. por Ciro, rei da Pérsia, que foi dado aos cativos o comando de regressarem a Jerusalém (Esdras 1:2-3). Foi  vontade expressa de Deus que a nação inteira de Israel (todas as 12 tribos) regressasse à terra de Israel e à cidade de Jerusalém como sua capital (veja-se Ezequiel 37:21-22). É vez após vez confirmado que a restauração era assunto para todo o Israel (Ver Esdras 2:70; 3:1-2; 6:21; 7:7-13; 10:1-5). Não há quaisquer tribos perdidas de Israel!

Os pequenos grupos de judeus que não quizeram regressar à sua terra espalharam-se eventualmente por muitos países da Ásia e Europa, mas a maioria manteve a sua identidade de judeus e construiu sinagogas onde praticar a sua religião tradicional. A maioria dêles não queria misturar-se e casar com gentios. Paulo visitou vários dêstes grupos nas suas viagens missionárias. O seu número aumentou consideràvelmente depois da destruição de Jerusalém em 70 AD.

A palavra “Judá” tem significado especial, pois refere-se à tribo real de Israel de onde também nasceu o Messias, Jesus Cristo. Por este motivo, todas as tribos se associam ìntimamente com Judá. Como já indicámos, largos grupos das dez tribos nortenhas de Israel aderiram ao reino de  Judá, mesmo antes do cativeiro babilónico. Durante e depois deste cativeiro, o termo “Judeu” (derivado de Judá) estabeleceu-se como sinónimo para “Israel”. Basta lermos os livros de Esdras e Neemias, para verificarmos como os termos ‘Judeu’ e ‘Israel’ são usados alternadamente para descrever o mesmo povo (Esdras 6:8, 16-17, 21; em Neemias 1:6 e 4:1 os nomes ‘Israel’ e ‘Judeu’ são alternados da mesma maneira).

No seu livro Zacarias também alterna os termos ‘Judeu’ e ‘Israel’, ao referir-se à nação restaurada. Êle diz que depois de todas as hostilidades e dificuldades sofridas por Israel, êles serão por último inteiramente restaurados e espiritualmente reavivados e depois aceites e grandemente honrados pelas nações que também vão servir o Messias durante o milénio: “Nesses dias dez homens de cada língua das nações agarrarão a manga de um judeu dizendo, ‘vamos convosco, pois ouvimos dizer que Deus está convosco’(8:23). Em 9:1 e 12:1, êle refere-se ao mesmo povo como ‘Israel’.

O cenário post-exílico descrito por Zacarias é o de um povo israelita reunido, que enfrentava o desafio difícil de reconstruir a devastada cidade de Jerusalém, o templo arruinado e também outras cidades e vilas. Quando o Império Babilónico se rendeu ao Império Persa em 539 A.C., Ciro decretou que os judeus podiam regressar a Jerusalém para reconstruir a cidade e o templo (Esdras 1:2-4; 2 Crónicas 36:22-23). Regressaram em 536 A.C.

Os sacrifícios foram em breve restaurados num altar reconstruido para ofertas queimadas (Esdras 3:1-6) e no segundo ano após o seu regresso foi lançada a fundação do templo (Esdras 3:8-13; 5:16). Os povos visinhos, particularmente Samaria, opuzerm-se ao trabalho e isso, juntamente com a extrema pobreza dos judeus regressados, arrefeceu o seu entusiasmo e por fim fez parar os esforços de reconstrução por 16 anos até ao reino do rei persa Dario. No segundo ano de Dario, (520 A.C.) Deus trouxe o profeta Ageu para encorajar os judeus na reconstrução do templo (Esdras 5:1-2: Ageu 1:1). Zacarias também encorajou ao reavivamento espiritual e à reconstrução do templo, revelando ao povo o plano de Deus para o futuro de Israel. À luz deste encorajamento profético, o povo completou a reconstrução do templo em  515 A.C.

Esquema do livro

Êste livro apresenta-se sob o seguinte formato:

1.    Preâmbulo (1:1).

2.    Chamada ao arrependimento (1:2-6).

3.    A comunicação das visões (1:7-6:8).

4.    Acto simbólico concluindo as visões (6:9-15).

5.    As quatro mensagens de explicação (capítulos 7-8).

6.    O primeiro oráculo de revelação: O Rei ungido é rejeitado (Capítulos 9-11).

7.    O segundo oráculo de revelação: O Rei rejeitado regressa a Jerusalém e sobe ao trono (Capítulos 12-14).

Seguidamente à chamada ao arrependimento (1:2-6), Zacarias deu a conhecer uma série de oito visões proféticas nocturnas que êle teve numa única noite (1:7-6:8). Estas visões são de natureza reveladora e são descrições altamente figurativas de encorajamento escatológico. De acôrdo com o comentário de Walvoord & Zuck, (Comentário do Conhecimento Bíblico), as oito visões nocturnas têm os significados básicos seguintes:

 

Visão

Significado

O cavaleiro do cavalo vermelho entre a as murtas (1:7-17)

A ira de Deus contra as nações e bênção sôbre o Israel restaurado

As quatro trombetas e os quatro artífices (1:18-21)

O julgamento de Deus sôbre as nações que afligem Israel

O capataz com a linha de medir (Capítulo 2)

As futuras bênçãos de Deus para Jerusalém e Israel restaurados

A lavagem e dedicação do sumo sacerdote Josué (Capítulo 3)

A limpeza futura do pecado de Israel e a sua restauração como nação sacerdotal

O candelabro dourado e as duas oliveiras (Capítulo 4)

Israel como luz para as nações sob o Messias, o Rei Sacerdote

O rôlo volante (5:1-4)

A severidde e totalidade do julgamento divino individual sôbre os israelitas

A mulher na efa (5:5-11)

A remoção do pecado nacional de Israel de rebelião contra Deus

Os quatro carros (6:1-8)

O julgamento divino das nações Gentias

 

O amor de Deus pelo Seu povo Israel, está bem claro nestas descrições e revelações. Êle prometeu restaurá-lo na sua terra e fazer de Jerusalém um motivo de louvor (Zacarias 1:16; Isaías  62:6-7). O Messias, Jesus, é o Mediador nomeado, através de Quem estas bençãos vão ser derramadas sôbre Israel. Deus não abençoará Israel apenas devido à sua descendência. Os que rejeitarem o Messias acabarão na grande tribulação, da qual apenas um resíduo de crentes será salvo (13:8-9).